Reino das águas

Pantanal, suas águas são doces

e seus rios correm manso em largos sonhos úmidos

Macrófitas flutuantes

Quero morar também em suas águas pantanal

Quero ser taboa, capim navalha, papiro, junco ou aguapé

lírio da água, vitória régia, erva do pântano

Quero fazer de mim teu regaço

faço, me desfaço, refaço

agora em novos sons

das garças do teu céu, gavião que avoa raso

jaçanã e carcará, curicaca e biguá

posso ser também,

capivara, veado catingueiro, anta, tamanduá

bugio, quatí, tatu, ou até lobo guará

Só pra poder morar nesse teu mato, nesse teu verde que reveste a terra. Nessa tua abundância de vida que por vezes tão misteriosa se mostra indubitável à beleza do natural.

Quero firmar meus pés como raízes agarradas em teu chão, solo fértil e vivo que em em mim respira

quero poder ser sua aroeira, ipê, figueira, angico ou até mesmo palmeira

quero brotar na palma de sua mão pantanal

dar o fruto, matar a fome, dar a sombra fresca no calor do pântano.

Mas sempre que penso em tu, pantanal...tua terra pantanal, tuas águas pantanal...me torno jacaré, todos esses que povoam teus rios e boiam seus olhares taciturnos como se nada quisessem,

como se essa prática meditativa fosse de alto escalão da evolução. E quem dirá que não?!

Mas talvez eu prefira ser piranha, pacu-aranha, dourado, poraquê,

piraputanga, curimbatá, jaú, muçurana, sururucu

Sou calango do pantanal

sucuri que sai da água e se arrasta crepitante por entre as folhas secas

quero morar no seu reino pantanal

de mil reis e ares

calangos coringas e tamborins

quero virar pescador de águas mansas

pescar sonhos e esperanças

em tuas águas pantanais.

Lírio Gita
Enviado por Lírio Gita em 15/01/2019
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