Lágrimas
Chuva que cai incessante e inverna
Sangra fria e débil sobre a calçada
Tão insolente e igual que usurpa o tempo
Na pouça que surge, eterna e farda
Do quarto de onde finjo transcendência
Ouço seu murmúrio arfar maldito
Dissolve o último fio daquilo que acredito
Repete o maçante torpor da existência
Não sei porquê em mim me dói a chuva
Em vão invento esses céus que choram
Se a lágrima distorce e cria a visão turva
Lá fora os rios e plantas comemoram
Deixe fundir-se no dia cinza a quimera
Que este setembro em cores já floresce
Já veste o dia o doce véu da primavera