Buracão
Da sua imobilidade pode sair
Tanta vida, tanto som
Das suas pontas angulosas
Pode sair tanto movimento
Força adormecida das rochas,
Arte esculpida pelo vento...
Da sua escuridão
Pode sair tanta beleza
Da sua superfície áspera
Tanta singeleza...
Majestade humilde,
Sal e sedimento que acolhe
Para mostrar a perfeição
A grandeza desta imensidão
A quem, por sorte, te olhe
Sua solicitude não reclama
A doação abandonada de quem ama
Mas eu, um nada de luz,
A esperança de um raio tímido de sol,
Reconheço-te e me obrigo
Agradecer a existência desse abrigo
Refúgio para onde sempre corro
E me desligo,
E quase morro,
E me castigo,
E me consolo,
E me desnudo,
E me socorro,
E me perco,
Para encontrar comigo.