O PESCADOR (HOMENAGEM À ANTÔNIO DE GASTÃO)

Se o mar ou o Itajurú estão pra peixe, lá está ele

Linha de pesca tucum, e uma rede, cá vem ele

Eis o tão ditoso e ínclito pescador

Coreógrafo do nado sincronizado dos botos

Ilustre membro na rara tertúlia dos pingüins de smoking

Imperceptível na mímica evasiva do cardume esvaído

Findada, a busca, a isca, o almoço

Quão harmonioso e homogêneo é

Diante do tão formoso amálgama natural

O qual sucede-lhe a camuflagem

Sendo o qual dele mesmo faz parte

Por entre orquídeas, gabirobas, mandacarus, araçás

Cambuís, guaco, cipós-chumbo, perobás

Conhece bem o espetáculo que é a natureza

Da guapebeira, então, nem se fala

Guapeba-de-leite gruda no céu da boca

Ainda faz brotar da madeira

Velho tomé, chico preto, sanhaço, dr.mamão

Filomena, palhaço, joão redondo, azulão

Artista, é de primeira

De-lhe o violão

Canta afinado a melodia da generosidade

Timbrando simplicidade incandescente

Dê-lhe um pôr do sol na beira do cais

Ah, contemplação que dá em verso e prosa

O céu estrelado, depois,

Mais oportuno momento não há

Pra contar estórias às crianças

Ora sobre o fogo verde, ora nos tempos do Algodoal

Pagé tzumé, sereias no litoral

Ou quem sabe as histórias

De Vespúcio, tamoios, caboclos da salicultura

Ou dos tempos no Algodoal

Afinal, crianças e jovens não são sabedores

Mas precisam saber

E enquanto o Itajurú, ou o mar

Ainda estiverem para peixe

Assim como a vida está para a arte

Mais farta será a pesca do melhor pescador

Melhor artista será o que melhor vive

Porque sabe pincelar nos quadros da vida

Os tons e silhuetas da natureza

Que existiam aqui em mil novessentos e doze

Que existiam aqui em mil novessentos e vinte

Que existem aqui até hoje

Seja você quem for

Filho ou filha do pescador afoito

Ancestral, ou forasteiro

Não é sabedor, mas precisa saber