O TRONCO DE SÂNDALO
O machado abre cortes no cerne cheiroso
A seiva rubra corre pelo fio cor de prata
Forte, balança o braço vigoroso
Castigando o coração da virgem mata
Folhas soltas forram a fina relva
Como um tapete verde de tristeza
O silêncio contamina toda a selva
No lamento mudo da mãe natureza
Nas flores um odor amadeirado
Contrasta com o cheiro cobre do metal
O uirapuru voa na mata assustado
Buscando fuga em seu abrigo vegetal
O urutal aguda seu canto lamentoso
Que ecoa pelas vozes da floresta
Do capim colonião ao ipê frondoso
A destruição não mais se contesta
O cinza sem vida acende a visão do vazio
Onde outrora a jaçanã cantava
Chora a garça na beira do rio
Sobre os galhos onde antes a jurití piava
Uma a uma vão tombando ao solo
As centenárias formações vegetais
A natureza acolhe terna em seu colo
As verdes vidas que não existirão jamais
Na clareira aberta, paira abandonado
O tronco rustico de cor marfim
Figura a certeza do futuro condenado
No perfume sandâlo que impregna o machado
Profetizando o caminho para o nosso fim...