O TRONCO DE SÂNDALO

O machado abre cortes no cerne cheiroso

A seiva rubra corre pelo fio cor de prata

Forte, balança o braço vigoroso

Castigando o coração da virgem mata

Folhas soltas forram a fina relva

Como um tapete verde de tristeza

O silêncio contamina toda a selva

No lamento mudo da mãe natureza

Nas flores um odor amadeirado

Contrasta com o cheiro cobre do metal

O uirapuru voa na mata assustado

Buscando fuga em seu abrigo vegetal

O urutal aguda seu canto lamentoso

Que ecoa pelas vozes da floresta

Do capim colonião ao ipê frondoso

A destruição não mais se contesta

O cinza sem vida acende a visão do vazio

Onde outrora a jaçanã cantava

Chora a garça na beira do rio

Sobre os galhos onde antes a jurití piava

Uma a uma vão tombando ao solo

As centenárias formações vegetais

A natureza acolhe terna em seu colo

As verdes vidas que não existirão jamais

Na clareira aberta, paira abandonado

O tronco rustico de cor marfim

Figura a certeza do futuro condenado

No perfume sandâlo que impregna o machado

Profetizando o caminho para o nosso fim...

Ciro Bevilacqua
Enviado por Ciro Bevilacqua em 17/01/2013
Reeditado em 29/10/2013
Código do texto: T4089493
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.