Rio Dragão

Atravessa, no meio da terra alagada,

a serpente do Pantanal

com asas gloriosas.

Contorna os flancos,

faz esquinas em barrancos,

numa onda de força e poder.

Seu sacolejo é a maré da vida:

descendo, formam-se escudos alvos;

elevando-se, afiam-se as laminas de água.

No seu voo, rema a minha alma,

lançando linhas de poesia,

que invocam o mistério de seu leito,

escondido na escuridão de suas escamas.

Cuidado com esse dragão!

Sua morte provoca portentosa cólera:

épico poder do fim de um caminho sem volta,

tal como as águas que descem o rio.