"ANOITECEU, O SINO GEMEU..."

“Anoiteceu,

O sino gemeu...”

Sobre um pai, na sarjeta, embriagado

Na boca, sobre o fumo do drogado

Num bordel, entre amantes solitários

Num morro, sobre um corpo baleado.

Na igreja, um salmo de invocação...

Anoiteceu,

O sino gemeu...

Como geme a família abandonada

Como geme outra mãe desconsolada

Como gemem, nos leitos, à espera...

Como os amantes gemem num bordel.

Na igreja, uma oração se eleva ao céu...

Anoiteceu,

O sino gemeu...

E a família de um ébrio se desfaz

E um filho de overdose morre em paz

E os amantes se deixam solitários

E morre, sobre a maca, o baleado.

Na igreja, outro cântico de louvor....

Anoiteceu,

O sino gemeu...

E o mundo continua em seu pecado

E o homem continua encarcerado

E, os santos, em seu culto, alienados

E os anjos e os demônios admirados

E, com um credo, o culto a Deus é encerrado...

Amanheceu e o sino gemeu

Pois nenhum santo se comprometeu

A sair pela cidade,

Pelas ruas e bordéis,

Prostíbulos e hospitais,

Prisões, morros e sarjetas,

E levar uma palavra

De esperança e salvação

Àqueles por quem Cristo morreu.

Moses Adam

Expresso Leste, in. 0412/2009

Poá, Batuíra, corpo, 1512/2009

Ferraz de Vasconcelos, tr. 2312/2009