Suposições

 

Nasceste livre, suponho 

Não conheceste o cativeiro,

Nem o tronco

E assim, de suposições

Recrio em minha mente

Lembranças que não tenho.

Dentro do canavial

Encontraste, nesta vida

O destino final

De um corpo negro

Reluzente e inchado

Jogado ao léu,

Sem alma e vazio

À espera da misericórdia

Somente vinda do céu

Em meio às folhas cortantes

O visco sobre a pele lustrosa

Foi a visão de alguém

Que, no susto, te estendeu a mão

Num ato tardio de caridade

Sei lá quais preconceitos

Agruras e provações

Te obrigaram a fugir

Do mundo real e da crueldade

Daqueles que se dizem normais

E de boca cheia, dedo em riste,

Taxam, ordenam e organizam

Onde a vida insiste.

No etílico flutuaste

Na solitude opressora

Refugiando-te da realidade

Áspera e agressora

Sem amor ou compreensão,

Dos que vivem por teimosia

E se perdem irremediavelmente

Dentro de sua própria amplidão.

 

 

Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 31/08/2022
Reeditado em 02/12/2022
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