A morte e a poesia

Outro dia associei a morte com a poesia

A princípio pensei que não combinaria

Dois extremos tão opostos, realmente nada a ver.

Até que você para pra perceber

Ambas falam de sentimento

Sua visão sobre tudo

Até a vida

Até a morte

Parece uma heresia pensar que na morte tem poesia

Mas talvez não seja

O fim de um ciclo

O encerramento de uma história

A certeza de que somos muito mais do que um corpo

Parece impossível no meio da tristeza

Do medo

Da incerteza

Da angústia

Da ausência

Da saudade

É tanta coisa junta que é difícil discernir

Nunca mais ter alguém amado ali

Um corpo estirado que outrora era alguém

Mas hoje não é mais

É só uma pedaço de carne que apodrece

De fato, parece não ter poesia ali

Mas talvez seja isso a poesia

A capacidade de enxergar as coisas como de fato elas são

A gente vive como se não fosse morrer, mas isso é pura ilusão

A morte é a única certeza que a gente tem

A coisa mais democrática que existe

Todo mundo vai morrer

Ricos, pobres, brancos, pretos

E todos vão da mesma forma que vieram, sem nada

A poesia nos faz enxergar a importância do que de fato importa de verdade

E o que importa a gente não compra

Não come

Não veste

O que importa a gente vive, sente

Talvez a poesia nos prepare para a morte

Talvez a morte seja a concretização da poesia

Acho que taí uma certeza que a gente nunca vai ter

Por que nessa vida, só nos cabe viver.

Tamiris Pires
Enviado por Tamiris Pires em 07/05/2022
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