Polvo

ó

deus supremo

ó

grande Polvo

por que não deixa eu fazer aquilo

que realmente quero?

seus enormes tentáculos se enrolam

em meus braços

e pernas

sua tinta viscosa e escura

assombra qualquer tentativa minha de enxergar

é

para cá

é

para cá

virando o volante

virando

e

para onde eu nem queria estar

eu vou

Polvo

Polvo

abençoado deus supremo

sei que só quer me proteger

teme por mim porque me amas

mas não vira meu olho para onde ele não quer olhar

não leva meus braços para onde eles não querem estar

não faz eu evitar tudo o que eu amo e que um dia eu gostei

sei que eu sou pequeno perto de ti

sei que sua vontade quase sempre é maior que a minha

eu só queria sentir algum dia grande como você é

poderoso como és

queria ser mais que um misero fantoche

sendo levado pela dança de seus grandiosos tentáculos

confortáveis

não mais

não mais pelo menos desse jeito

não nessa dança triste de quase morte

dança paralitica

Polvo

eu não queria te deixar ir

mas sei que se eu continuar assim

eu vou sendo levado contigo para o fundo do mar

para a parte mais escura

onde a luz não chega nunca mais

e meus desejos e sonhos

estão muito difíceis de enxergar.

Endriu Costa
Enviado por Endriu Costa em 09/01/2021
Reeditado em 09/01/2021
Código do texto: T7155974
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