Ajude-me, Senhor

Doutor, me diga, o que eu tenho?

Às vezes estou sorrindo em devaneio

Outrora, lágrimas cortam o meu peito

Estou cansado, doutor, não aguento

Com tão pouco tempo de trilha,

Já fui apunhalado e jogado ao relento

Certos erros que cometi, ganharam vida,

E me assombram, oh, que tormento.

Doutor, por que sofro desse jeito?

O que fiz? O que esqueci de fazer?

Sei que não sou perfeito, eu sei, doutor

Mas, será que mereço? Quanto mais irei sofrer?

Doutor, cuide do meu filho

Oriente-o, para que ele não siga o caminho do pai

Que seja, carnívoro ou onívoro

Mas, que ele seja, além de tudo, sagaz

Pois, o que me faltou, eu quero que ele tenha por demais.

Doutor, eu confiei em tantas Dalilas

Que a minha vida para sempre estará em ruinas

Confiei a algumas, meu amor, meu calor, os meus versos

Em recompensa, fui arremessado, isolado, ao deserto

Chorei demais, doutor, e como chorei

Pedi demais, doutor, e ainda pedirei

Para mudar, me tornar um animal,

Com apenas desejos carnais e nada mais.

Doutor, quero não mais argumentar perante o espelho

Não quero mais discutir comigo mesmo

Quero viajar lábios a lábios, sem me apegar

Quero velejar em curvas que não irão me devorar

Estou cansado, doutor, de me entregar e me enganar

Tudo que faço é pensar no próximo

Por que, então, doutor, me desprezam com tamanho ódio?

Doutor, o senhor não sabe,

Mas, já escrevi serenatas de bela vontade

Acredite ou duvide, foram ridicularizadas, doutor

Elas foram esculachadas, enojadas

Diga então, se estou doente

Por que ainda continuo escrevendo-as diariamente?

Até quando estarei na reciclagem?

Até quando serei usado? Ou isso tudo faz parte?

Não, doutor, não tenho orgulho de quem sou

Não me adoro ao reflexo, ah, o rancor

Não sei mais o que fazer, preciso do senhor

Acho que estou doente, sinto tanta dor

Faça ela passar, bom doutor, por favor

Estou à deriva e tenho medo de me afogar

Não tenho ninguém para me salvar

Nem mesmo aquelas pessoas que me pus a ajudar

Abandonaram-me, caro doutor, todas elas se foram

Viver um outro amor, foram se aproveitar de outro

Sofredor, doutor, como eu, ah, quanto desamor.

Estou cansado de sempre tentar,

Falhar, me recusar em desistir, e levantar

Quero paz, doutor, mas, não sei se sou digno

Talvez eu tenha cometido algum delito

Talvez eu esteja mentindo para o meu espírito

Talvez eu mereça estar ao pé deste precipício

Caro doutor, diga-me, o que eu devo fazer?

Devo ceder? Cair, para esquecer de tudo?

Tenho medo de, quando sol nascer,

Eu ainda esteja só, no escuro.

Doutor, às vezes eu fico pensando sobre a minha postura

Fico pensando se eu deveria ser mais agressivo

Ter menos "jogo de cintura", mais instinto, ser menos pensativo

Doutor, quero ser comum, normal, apenas um indivíduo

Com desejos, com medos, pensamentos reprimidos

Não quero me preocupar com o bem-estar alheio

Não quero ajudar pessoas e relacionamentos passageiros

Quero ser um Don Juan, doutor, mas, não consigo

Não consigo visualizar damas como simples objeto, estou perdido.

Doutor, desculpe este meu monólogo

Obrigado por me escutar, me sinto melhor

Espero vê-lo logo, tenho tanto mais para dizer,

Desabafar, tenho muito para falar

Obrigado novamente, doutor

Devo ser o paciente mais problemático do senhor.