O Poeta E A Mulata

Ai de mim! Sou anônimo brasileiro.

Poeta da pobreza, que vive tentando se manter de pé

em uma permanente corda bamba.

Todo dia bato um prato de feijão-preto,

sonhando com o cremoso Bolinha;

e para aumentar de vez a minha desdita,

oh céus! Não sei fazer samba.

Já fui expulso a pancadas da gafieira,

por mexer com a mulata do Tião.

Ah! Também, a safada da mulata tava dando mole,

e nem reparei no muque do negão.

Samba de gafieira? Nunca mais, malandro!

Tentei o Samba de roda, ninguém entrou na roda.

Parei com o Samba de breque,

pois só compunha de pileque.

Dá licença, gente; deixa eu tomar um fôlego...

Pronto! vamos lá; sem tamborim,

surdo, pandeiro, cuíca ou cavaquinho.

E vejam só, estou inconformado!

Nem sei o que é um Samba-sincopado.

Rascunhei um Samba-enredo, o pessoal lá da Vila,

logo falou: “tá tão ruim que dá até medo”!

É por isso que eu gosto de gente humilde.

Ô povo sincero!

Samba-choro me faz lembrar a mulata faceira do Tião.

Ah, como ela samba com graça!

Fico doido de tesão, quando ela requebra

mexendo as cadeiras, pérola de tentação.

Pôs-me feitiço, essa mulata!

Tô com uma tremenda dor de cotovelo.

Vou tomar uma cachaça para curar minha desilusão.

Última tentativa: farei um Samba-canção.