Ela só tinha vinte e poucos

Os pés rijos

grudados no pedal

poderiam fazer girar um moinho.

Era tanto o peso da falta

que seus olhos se vidravam

sempre à frente.

Tão à frente

que não conseguia sentir a brisa fresca

da trilha de eucaliptos.

Não sentia os raios de sol atravessando as árvores e embaçando a visão.

Ela só queria chegar!

Da terra ao asfalto

carregava dois mundos no cano da velha bicicleta.

E fazia, sozinha, funcionar uma engrenagem maior que todos os seus medos.

Enquanto o suor fazia rastro em seu rosto,

os meninos achavam graça dos cabelos esvoaçando na descida.

Ela só queria chegar!

Os carros passavam por eles como um vulto difuso.

Eram esperanças que partiam feito raio.

Nunca paravam.

Deixavam só uma sombra daquilo que os três não eram.

E ela chegou!

Ela sempre chegou onde achou que eles deveriam estar.

Muitas vezes não conseguindo chegar ao seu próprio lugar no mundo.

Ela só tinha vinte e poucos

e os dois lhe deram mais vinte e tantos.

Eles trouxeram a ela algum impulso para pedalar.

Ela lhes deu um caminho daquilo que eles deveriam ser para sempre!

Talita Fernanda Sereia
Enviado por Talita Fernanda Sereia em 12/05/2019
Reeditado em 21/06/2019
Código do texto: T6645465
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