Família Minha!
Do interior do sul goiano,
Nasceu esta família então.
De analfabetos pais,
De numerosos irmãos.
Divino Primogênito.
Sônia logo em seguida.
Marcos o filho escuro.
Fábio cabeça erguida.
Todos filhos da pobreza.
Moldados de surra em surra.
Todos cedo na lida,
Fosse no sol, no frio ou na chuva
Jovelina é a mãe!
Prefere que chamem de "Fia".
A primeira judiada.
Insultada todo dia.
Não decifra as palavras.
O nome ela desenha.
Mas não tem dona de casa,
Mas zelosa e mais ferrenha.
Com a vassoura varre o chão.
Com o machado corta a lenha,
Pra por fogo no fogão
Enquanto “Duca” da coitada só desdenha!
Esse tal dentro das aspas,
É o nordestino cabeçudo
Trabalha o dia e bebe a noite.
Chega em casa e quebra tudo!
Se em casa ele é Duca,
Na rua é Bulandeira.
Homem de dura cerviz,
Não aceita brincadeira.
Pra alimentar quatro crianças,
Trabalha pra morrer!
O salário não dá pra nada,
Mas sempre sobra o de beber.
A pobre coitada da Fia,
Espera já assustada.
Esquenta a janta do dia,
E o serve apressada.
Mesmo assim ele reclama,
Diz que a “bóia” ta fria.
Dá-lhe uns dois ou três sopapos...
-Burra! Sonsa! Égua! Vadia!
Os quatro filhos tudo assistem,
Assustados e escondidos.
Mas ele sempre chama o “Vino”,
Com bofetadas no ouvido!
E o “Marcão” se ri do irmão,
E acaba apanhando por tabela!
Apanha Sônia porque enredou,
E o “Fabim” porque pulou a janela...
E assim era que Bulandeira,
Educava as suas crias.
Se merecessem apanhavam,
Também sem motivos batia!
Mesmo no meio de tanto horror,
De violência e necessidade,
Os quatro irmãos cresceram,
São de ilibada idoneidade.
Aprenderam muito bem,
O que não se deve fazer:
Maltratar esposo e esposas,
E nem nos filhos bater!
Se tornaram, sem exemplo,
Pais de boa conduta.
Que amam e respeitam os filhos.
De mal deles nada se escuta.
E não venham me dizer,
Que o que o pai foi o filho vai ser!
Pois não há certeza no mundo,
Que Deus não possa desfazer!