EU E MEU PAI

GILBERTO BRAZ ALMEIDA

Meu pai, meu pai.

Quantas recordações

acumularam-se em minha cabeça!

Éramos como duas crianças felizes

pelos caminhos orvalhados da roça.

Tu ias à frente

e eu atrás.

Tu abrias as porteiras

de arame farpado

e juntos passávamos

como dois andarilhos...

Meu pai, meu pai.

Era mais um dia de trabalho,

os nossos corpos cansados,

as nossas calças enegrecidas de picão,

como fadigavam as nossas pernas!...

Retornávamos a casa ao entardecer.

Tu carregavas um pau de lenha

sobre os ombros

e eu um saco de milho as costas.

A cada passo que andávamos

a carga ficava mais pesada.

Ainda bem meu pai que as sombras

de frondosas mangueiras descansávamos!...

Meu pai, meu pai.

Sob a luz da lamparina

eu era saciado

pelas histórias de tua vida.

Meu pai, meu pai.

Um novo dia amanhecia

e lá retornávamos nos

pelos caminhos

abençoados da roça...

Que saudade meu pai

do cafezal florido,

do milharal embonecado,

do arrozal cacheado,

dos pés de laranja lima,

do ranchinho de sapé,

da mina d’água lá no grotão,

daquela enorme figueira

onde os pássaros cantavam...

Cantavam meu pai.

Hoje não cantam mais.

Meu pai, meu pai.

Lá bem distante

onde era o nosso roçado,

ainda se planta saudade.

gilbapoeta
Enviado por gilbapoeta em 14/02/2012
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