Poema às quatro e quarenta e dois da madrugada
Dois mil e vinte,
caia logo.
Milênio
sarna logo,
semente na lógica.
A feliz cidade de Deus
escancará
suas portas e chaves depois,
molho na cabeça
que se abre em duas festas.
A festa de antes azedou.
O festim de agora:
rançoso, acre e adúltero como o beijo de Clitemnestra.
Década de vinte,
de asa renovada,
alça voo do condor,
lança a sombra branda
sobre a auréola retinta das mães,
das benditas heroínas seculares,
lares, berços, redenções perdidas.
Todos os sonhos, todos novíssimos permitam-se.
O poeta na vigília
conserta os segundos e as arestas
antes do início.
Dois mil e vinte
pode vir
que os papéis estão a postos.
O nanquim etiquetado,
inquieto pelas verdades:
iluminuras virgens viróticas.
Camisa vermelha
no inaugurar do sangue
pelas pernas convidativas
e malevolentes da aurora e morte?
Quentes, apreensivos
séquitos de sensualidades
de mulher amada primeira,
sendas perfumadas,
loucas cabeleiras desfeitas pelo punhal desbravador.
Dois mil e vinte
pode vir que o perfume
é de fêmea
e da mulher se faz de estreia e salvação.