Da minha varanda

a minha varanda era maior do que o mundo

O vidro separava-me do futuro

O céu, refletido em meu olhar,

transmudava,

meu eterno sonhar

De repente

Tinha lentes

e via-me ali,

Imersa ao sol poente

Na varanda, tudo via:

A doce senhora que cuidava da casa

as luzes acesas

Casas apagadas

e eu ali, sentada

o futuro contido no ar que eu respirava

Oxigenada, minha alma nos avistava

seríamos nós

E a minha casa.

Ah, como eu sonhara...

Um dia a lua haveria de iluminar

A prova inequívoca de que há beleza em meu olhar

Estaria distante do período sombrio

Do passado distante, vazio

Libertaria-me dos vidros frios

Do desvario

Anos se passariam

E eu,

Voaria

Com as asas

Que, pasmém, eu nem sabia...

as tinha!

Voaria

Voaria

Voaria

até perder-me de vista

seríamos eu,

o futuro

E o mundo

a varanda, já distante

meu corpo, flutuante

Por entre as esquinas

Errantes

Lá estaria a vida,

A doce vida

Que me fora devida.