CONFINAMENTO
(Por Aglaure Martins)
Ainda nos restam as frestas
onde o sol escapa e também se recolhe
acolhendo raios de sonhos
embalando-os em braços matutinos.
Ainda nos restam os reflexos
donde se projetam vidas
palavras que foram engavetadas pelo tempo
nos dias de chegadas e de despedidas.
Ainda nos restam pensamentos...
O ontem festivo, o hoje q' vira instante
o amanhã sempre incostante
o que se foi e o que virá ainda.
Então nos resta emergir das cinzas
mastigando o relento que nos é doado
engolindo o vento que nos foi soprado
digerindo o engasgo que nos foi imposto.
Ainda nos resta ser louco
vestir a insanidade que balouça a mente
navegar no amor que do amor transcende
banhar-se com o orvalho da paixão da noite.
Ainda nos resta o perigo iminente
do rumorejar lânguido que arrastam as horas
nesse mundo figurado e figurante
que reflete cores nos olhos dos tolos.
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ACMJP11012018