ÁGUAS PASSADAS




ÁGUAS PASSADAS
Silva Filho


Tépidas, passam águas viandantes
Sob a extensa ponte de concreto
Em outros leitos deitarão pujantes
Em outras plagas ficarão, decerto.

E chora a ponte, inconformada chora
Eis que lhe falta a possibilidade
De embarcar na correnteza afora
De renascer em outra realidade.

Ao seu concreto, falta concretude
A arquitetura já não faz sentido
Enquanto o tempo passa amiúde
Viver assim é como ter morrido.

Eu sou a ponte, a procurar caminho
Mas este leito não me leva avante
Quem sabe um dia, passe um remoinho
E um tornado leve-me distante.


Em outras sendas, como águas passadas
Hei de encontrar um mar hospitaleiro
E outros leitos ser-me-ão pousadas
Adeus concreto, vou seguir bandeiro.