O Cristo e o Nazareno
O Cristo e o Nazareno
O Cristo com seu olhar sério me adverte
Pela minha falha e a carga que me castiga
Me diz incisivo: Por que erra e não se converte?
E minha alma pesarosa então me cobra e fustiga
O Nazareno com seu olhar dócil me deu um lenitivo
Recordou-me que não sou preciso e perfeito
Em meu ombro com um gesto firme e definitivo
Selou a paz onde era pranto e assim levanto,assim me deito
O Cristo , embora meu coração sedento e contrito
Dia após dia me exige do íntimo total reparação
E do âmago atroz ecoa ao horizonte um grito
Pois a seu ver me é impossível galgar a iluminação
De pés empoeirados e sorrindo com o rosto bronzeado
O Nazareno mostrou que à minha densa humanidade
Em verdade fundiu-se,era Deus e também encarnado
Ao finito subjugado, espalhava ao olhar a mais pura piedade
O Cristo, do alto de sua inalcansável divindade
Ainda espera,sisudo,o dia do acerto de um ignorante
Cuja existência constante,assolada e maltratada
Não consegue conceber e assim cambaleante,distante
Da hipotética redenção acertada,no início contratada
Vaga à esmo peregrino sem saber de seu fatídico destino
E essa incógnita denigre,mitiga o que era para ser devoção
Pois à volta dessa dúbia realidade paira esmagadora
A sombra fria e fúnebre da impiedosa condenação
Mas o Nazareno com sua indubitável capacidade amorosa
Mesmo em sua limitada condição de ‘deidade humanizada’
A todos sem exceção envolveu numa aura amável e gloriosa
Prodigiosa, confirmando a dádiva nascida no coração do Pai
De revelar a luz eterna e libertadora do definitivo evangelho
De que toda alma é filha da criação infinita do universo
E cada verso... dito,escrito assim corrobore,anuncie, proclame
Pois o mundo geme,lamenta,suplica por um Pai companheiro
Hospitaleiro,dono de um amor sem arestas e resquícios
E a VERDADE por fim impere sem camuflagem , sem vícios
Debaixo da bênção do criador e de seu AMOR verdadeiro
Confiante almejo ver o dia em que majestoso
O Filho do Homem com seu peculiar olhar sereno
Por fim destrone o Cristo de todo o coração esperançoso
E reine assim , divino e simples o nosso Jesus Nazareno
Nil Santana