Outono
Como árvore em dias de outono
Estou perdendo parte de mim
É uma dor sem nome, que me tira as palavras
Pra somente sentir
Nessa angústia de árvore fico
Sob um sol, cuja fúria não se aplaca
Inerte como um prisioneiro maldito
Penso em folhas e flores rompendo essa casca
Como árvore em dias de outono
O vento, nesse tempo não conhece a compaixão
Arremessa-me com fúria, quer tudo de mim
Histórias e memórias velhas viajam no firmamento até cair
Em meio a essa dor, ainda luto
Um moribundo na insistência de não perecer
Mas há um sol que ainda não vi
O desejo de vê-lo me convence a morrer
Como árvore em dias de outono
Estou nua sob o céu turquesa
Despojada de tudo que parecia beleza
Sinto a chuva me tocar nessa espera
Brotam-me folhas, abrem-se flores: é primavera!