Insuficiente

às vezes me sinto coberto, cheio ou simplesmente inundado por sangue

a poeira que se une, tudo que se resume a mim, tudo que de podre veio até aqui

a leitura está fudida, minha vida é uma eterna ferida que não foi cicatrizada

nunca foi suficiente, nada é o comum para mim

eu queria apenas ser alguém que saia com os amigos

alguém que ía nas baladas, que simplesmente foi de uma rua a outra

que podia ter olhado e feito, nada mais do que isso

eu queria ter podido ter coragem de te contar que de ti gostava

com uma mão no bolso, guardo a beleza, enquanto que no outro, a tristeza

roubando o ouro de mim, eu mesmo fui me afundando com o meu modo arredio

a tristeza me encobriu naquela situação, perfurando o olho do meu irmão

ninguém faz isso com apenas um pincel, quis vingança e a tive como no hell

fui de cabo a rabo me destruindo, com pensamentos destrutivos, me mantive na minha própria prisão

conversando com apenas a única pessoa que podia me dar amor desde sempre

aquela a quem eu não podia me esconder, porém, sempre soube brincar de pique-esconde

ferradura nas mãos, eu me deixei cair, como num passe de mágica

na solidão de um buraco obscuro e fedido, minha foice foi se espelhando bem ali em mim

fincando nos versos de uma lei de fé, a única luz era a da esperança

nunca foi suficiente, nada é o comum para mim

fiz de tudo para você me amar ou não hein pai?

eu limpei o chão quando alguém chorou e me resguardei

nunca pude olhar e conhecer, me mostrar e provar do meu eterno ser

ferir alguém com brutal ferosidade, isto eu nunca quis fazer mesmo

mas saiba que mesmo que você leia todos os textos do mundo, nada será suficiente

tenho a solidão no meu peito, cravada como uma bala alojada

chego a conclusão de que não há como alguém conhecer alguém

o único modo é... conhecendo-se

com uma mão no bolso, guardo a princesa, enquanto que no outro, a pureza

aguardar alguém com cautela, nas escadas, sempre estive ali, bem a sua espera, na verdade

não sei o que realmente espero, quero que todos morram, que todos se danem, que tudo vá para o quinto dos infernos

não ouço nada vindo da sua voz, seu sangue me atrai, nada além de suas feridas irei ver

na solidão do meu viver, nas nuas paredes com um casaco azul, fiquei, agora...

foda-se com a sua leitura, corte seus olhos e morra infeliz, não tema a sua dor, enfrente-a

com toda a força de uma fera, você vai viver com uma dor no peito agora assim como um eterno passado?

conte para a porra do computador, para alguém, sofra, não conte, aperte o peito como eu sempre fiz

não faça nada, tudo é uma opção, nada é apenas destino, tudo já havia sido escolhido

na nuância de uma dor, ali vi o seu dom para ser tão lixo quanto alguém que saboreia a dor dos outros

nas paredes eu me encostava e observava, a frieza dela não era tão forte quanto a hipocrisia das pessoas

um olhar de pura fúria e outro de pura tortura, alguns de sorrisos carentes e ardentes, vadias imundas

tudo cru, pronto para ser levado para o fogo do inferno, meus olhos só viam isso? não, esse era o meu coração

tomando tudo e juntando a podridão e toda e qualquer emoção e transformando-a em tristeza aspera e ferindo-me

fui até a minha frieza de meu coração, com o tempo cada vez mais, fui me fechando, minha boca era um túmulo

eternamente um túmulo, só sabendo observar e temendo algum outro "estar", ficava sempre no mesmo lugar

nunca foi suficiente, nada é o comum para mim

amigos eu nunca tive até alguém me extender a mão

sim, eu invejei convites, saídas, companhia, na minha timidez eu me continha

eu me temia... e ainda temo

lidar consigo mesmo nem sempre dá certo, a raiva que resguardo ainda é grande

não quero descarregá-la em ninguém além de mim, porém, é, eu invejei já muita coisa

enquanto uns conseguiam fazer coisas simples, eu me detia, eu me prendia,

sendo aos outros e a mim, alguém insuficientemente bom para algo ou alguém

mas quero dizer que isso é passado, marcou! sim! marcou! mas eu, mesmo estando morto para meu peito

não posso dizer que eu morri na minha mente, tenho consciência de minhas capacidades e incapacidades

mostro-me feliz e puto de alguma forma para o mundo, sem nada agravar o modo de ser, vou seguindo com este "ser"

com uma mão no bolso, guardo a realeza, enquanto que no outro, a frieza

por um momento eu paro e rezo para que ninguém nunca venha a me conhecer

outro me desespero e num instante terno caio nas lágrimas de meu sobreviver

não busco passado, olho para o futuro, mas se nele tiver um espelho, como posso não ver o meu espaço

a aura que deixei para trás, a beleza que não se faz, as trouxas que ali caem, numa órbita de celestes

o sol se tornou uma forma de sentimento, um eterno ser que nunca irei dizer a não ser para o meu ser

um otimismo foda que me fode com sua esperança de viver, uma mão que me levanta e a que me trás até a realidade

a chuva vem para adoçar minha vida com sua grandeza, a felicidade de alguém é a sua felicidade?

estar sozinho lhe trás algo inconstante? ou você sabe realmente que... nada é suficiente para você

por isso você está vivo! por isso sua merda de coração ainda palpita nessa porra de mundo

só porque você é auto-suficiente! podendo fazer tudo o que te alcança, seus sonhos são meras esperanças

que esperam por um final e um ato gentil de seu trabalho braçal, abraçar a vida é o mesmo que

considerar que ela é insuficiente para você e que somente você pode preenchê-la

a vida não te faz, você faz a vida, você quem a completa

Gust
Enviado por Gust em 31/08/2011
Código do texto: T3193377
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