O adeus da Jardineira

"Não tenho nada além do vazio

Para te oferecer

Não sinto calor, mas frio

Não poderei te aquecer

Escolha o que lhe for conveniente

Não aposte nada em mim

Sei que és a mim, complacente

Mas as vezes prevejo o meu fim

Penso que morrerei sozinho

Numa casa cheia de livros inúteis

Que não preencherão meu vazio

Talvez tenha me enchido de coisas fúteis

Te querer é muito óbvio

Mas me despirei do egoísmo

Não te levarei em meu navio

Junto comigo para meu abismo"

Essas palavras doloridas

Eu não quero mais ouvir

Há sempre tempo para a partida

Você também tem que seguir

Minha alma sinto rasgada

Não posso compreender

Como seria por ti amada

Se preferes o teu sofrer?

Todavia, esporadicamente

Me imagino a te cobrir e te aquecer

Teus lábios a sorrirem vivem em minha mente

Seguirei, sei, mas não vou te esquecer...

Tu me dizes que tens somente o vazio

Mas em teus olhos vi o infinito

Tires a armadura e esse escudo sombrio

Pra ouvir de minh'alma o seu triste grito

Recusasse meus serviços

De jardineira em teus quintais

Minhas terras estão em viço

De borboletas, passarinhos e florais

Inda achas que aí dentro deves morar?

Pois bem, não olhes mais para mim

Com meu regador seguirei a cantar

Irei cuidar de um outro jardim.