Silêncio
De mim restaram apenas algumas notas desafinadas
(em um violão empenado jogado num canto da sala),
Uns rascunhos incompreensíveis,
E uma borra de café seca no fundo de uma caneca.
Interessante é não saber quando foi o fim.
Porque, no final, é tudo como se abaixassem o volume
E de repente é o silêncio que te acorda de um pesadelo.
Jogando-o, às vezes, num sonho pior ainda.
Parece a morte, mas não é morrer,
Pois há no frio do nada alguma fagulha cálida
Que o faz caminhar firme, contudo, cabisbaixo.
Administrando em cada passo doses de ódio e desprezo.
De mim restaram poucos cacos, incontáveis gritos,
Lágrimas secas,
E uma dor latejante, porém emudecida.
Calada no mais profundo de tudo que fui um dia.
R.W