A Sequela do Amor

Eram passadas duas da madrugada daquele maldito domingo,

Eu dirigia pela estrada, voltando pra casa, me sentindo bem ferido.

O som do silencio gritava alto, me acusava, me ofendia.

Era tarde, ou cedo, não puder saber, eu não mais compreendia.

Como pude criar aquilo, algo tão grande mesmo sem troca?

Não sei como cheguei lá, mas de uma vez por todas preciso dar meia volta.

Essa estrada não tem fim, trinta quilômetros que se parecem trezentos sem você.

Agora que se fora o asfalto me caçoa, me dizendo como fui tolo em não te compreender.

A medida que avanço sinto algo muito estranho:

Alguém no banco de trás, seria possível?

Tive medo de olhar o retrovisor e então apenas segui em frente, numa angústia previsível.

Eu sentia aquele ar gélido, como uma grande doença,

Daquelas que entram, se sentam no banco de trás e nos tiram a paz, com muita veemência.

Tive medo que aquilo me fizesse algo ruim,

Virar o volante, invadir a outra pista, ou de alguma outra forma, se atentasse, se livrasse de mim.

Engraçado, que ironia.

Discutimos espiritualidade naquela noite, mais cedo também, durante o dia.

“Tu está preparado para morrer”, ela assim me indagou,

Não tenho medo, nem me importo com isso, respondi em meu favor.

Sobre a evolução do espírito, do entendimento, também conversamos:

O meu se encontra inquieto, triste e doente de um modo bem profano.

Foi pensando em tudo isso que esqueci minha passageira,

Que no banco de trás se encontrava, eu ainda não a encarava mas sentia que era ela a carona derradeira.

Ao nos despedirmos eu a abracei com bastante sentimento,

Esclarecido por um instante e sem dúvidas de que aquele encontro seria o último, pude ler nosso momento.

Ali acabara uma história linda, linda e unilateral

Na qual não sobrevivi para encontrar a outra metade, não por falta de oportunidade, mas escolha literal.

Já é tarde, estou chegando. A estrada acabou.

Ligue pra casa, avise minha mãe que o seu filho enfim desabou.

Desabou do alto de um grande amor, o qual não lhe trouxe sorte.

Em meu epitáfio, se possível escreva assim: “Aqui jaz, Aquele que em sua última viagem, deu carona para a morte”.

“A morte não é o fim”, me apeguei àquela ideia,

Noutra vida eu te encontro, lá quem sabe me resolvo sem sobrar nenhuma sequela...

A sequela do amor é a saudade eterna.

Marco de Souza
Enviado por Marco de Souza em 21/05/2017
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