Quadripoética
1. Marcas
Cheguei ao ponto máximo
e descobri o que não imaginei
nas ondas e percalços da vida
é que aprendemos quem somos.
Depois que a banda parou
e todos recolheram-se
olhei pela fresta da porta
com medo do que viria.
Vi o quanto é possível
ser cruel consigo mesma
e o arrependimento
a me culpar sem dó.
As coisas estavam bagunçadas
as marcas da noite passada
os odores e as palavras ecoando
vi o quanto fui cruel comigo.
2. Inexplicável
Entender que a vida tem dor
e as tristezas nos assolam
seja ou hoje ou amanhã
vem a dor e se instala.
Sem que ninguém a apresente
desprovida de qualquer cerimônia
chega sorrateira e encontra abrigo
faz da minha alma sua morada.
Sem entender o que acontece
as lágrimas me embriagam
e sem querer me entrego a ela
as forças se esvaem e ela me domina.
Não dá pra entender porque
a causa, que fatores contribuíram
porque alguém inteligente
fica assim, não dar pra entender.
3. Condicionalmente
Se eu ficar aqui sei que nada vai acontecer
as flores irão murchar como sempre fazem
as horas passarão depressa
e eu nada farei de novo.
Diariamente eu tenho certeza:
cada coisa vai acontecer do mesmo modo
eu não posso mudar nada
só posso olhar o curso das horas e os pássaros.
A vida será sempre diferente para cada um
e eu não serei quem vou dizer isso
não vou mentir que será diferente
nem ter esperanças vãs de dias melhores.
Porque a condição é a mesma
a consequência é a mesma
e eu nada posso acrescentar
ao que está determinado.
Ainda que possam acontecer novidades
e eu mude de ideia com o passar dos anos
nada de novo vou trazer
que assombre a minha geração.
as paixões ditam as regras
e temos o reflexo da perfeição
vislumbramos príncipes e heróis
mesmo em farrapos e degenerados
por causa das nossas paixões.