Rasante

A verdade é que pouco me importa

A veracidade -voraz -

Dessas nossas palavras deferidas todas.

Se o eu te amo de ontem

Soa agora como um estalo perdido atrás da porta,

Que tenho eu de chorar por isso?

Se teu beijo era cor-de-amora outrora,

E

agora (?),

Erva malograda do quintal,

Que gosto devo perder de minha boca?

E dos poemas recitados,

dedicados - delicados -

Qual foi a ilusão de hoje?

Os versos tangíveis na ponta da língua?

A rima saborosa mergulhada em saliva?

Ou,

talvez,

O germe da eternidade, que vive feito trepadeira

Em volta da poesia, tenha-nos confudido

O prazo que nos é servido;

Servindo-se senhor de nós.

E depois da peça pregada,

Elaborou para si mesmo a criança mais arteira,

Que brinca negando o tempo de voltar para casa.

Esquece-se das horas,

Das broncas

E até do amor de quem lhe espera.

Vivendo para a simples poesia de agora.

Irremediadas

As decepções,

Nomeadas

As violências,

Sigamos.

Afinal, ninguém sai ileso,

lembra?