Tempestade

Hoje o dia me acordou chovido,

de chorar, inteira, a madrugada.

Um cinzento céu, sol escondido

e sensação de noite prolongada.

Batendo aqui, o pêndulo ligeiro

de um coração miúdo, dolorido,

por tentar conter o mundo inteiro

desse sentimento descabido.

Acelerada, a mente descontente

dissimula versos de um poeta

capaz de ignorar-se, ir em frente,

à busca de um sentido, outra meta.

Cria um engodo, sonha, mente

qualquer fantasia, que oportuna,

subverta toda ordem adjacente

dessa dor já sem razão alguma.

Lá fora, toda a vida segue adiante

e se alimenta do que vai, prossegue,

serve-se de fins e não obstante,

ressurgir-se, nova, assim consegue.

Mas, ainda que a chuva já não haja,

aqui é tempestade e permanece

o trovão estrondoso que encoraja

a inaudita alma, que ensurdece.