FÚRIAS DE UM SENTIMENTO

“A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la”.

(Augusto Branco).

Ah! Como ousas rir assim tão despreocupadamente

Depois da sádica infâmia que me dilacerou a alma

Criatura leviana! Despertaste em mim o sentimento

Para em seguida desprezá-lo com estudada calma!

Julgaste que podias conceder-me a paz, que tolice!

Arrogante pretensão, disfarçada de gentil ternura

Certamente ironizaste muito quando eu lhe disse

Que o amava com a mais doce e sincera candura.

Mas a verdade agora me azorraga a consciência

Nunca tiveste a intenção de dedicar-me carinho

Teus esforços serviram apenas à tua prepotência

Confiei em ti e te afastas com riso escarninho!

Porém nenhuma falta fica sem a justa retribuição

Desde as primevas eras, esta é a ordem do mundo

Tu mesmo forjaste as ígneas correntes de tua prisão

Atada a ti estarei pelo nó do ressentimento profundo!

Como os Antigos, eu invoco as Erínias implacáveis

A mim não cabe punir-te, por semelhante pecado

Para elas não existe crime oculto, ações detestáveis

Que escapem da reparação e assim aliviem o culpado.

Alecto, Interminável Perseguição das tochas acesas

Megaira, Invencível Rancor a berrar encolerizada

Tisífone, Impiedoso Castigo que desconhece represas

Abandonem as sombras em nome da afeição ultrajada!

Eumênides, a vós eu recomendo a alma daquele infame!

De dia ele pode entregar-se aos prazeres mais devassos

Mas à noite ainda que por piedade ele brade e clame

“As Benevolentes” o arrebatarão em seus firmes braços!

Ainda que desconheças o motivo do terror incessante

À distância padecerás a ferida que abriste em mim

Nos rostos sombrios das Fúrias verás meu semblante

Meu coração ulcerado será tua chaga aberta e sem fim!

Anankhe
Enviado por Anankhe em 14/08/2012
Código do texto: T3829694
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