Tédio

Tenho tédio de mim

Desta forma madura

Destes traços sem rumo

Destes gestos sem prumo

Tenho tédio de mim

Deste cabelo sem graça

Deste excesso de massa

Desta falta de raça

Tenho tédio de mim

Desta face imutável

Deste tempo inegável

Deste casulo inevitável

Tenho tédio de mim

Dos pensamentos previstos

Das palavras presumidas

De tudo calculado

Tenho tédio de mim

Dos lugares prováveis

Dos projetos estáveis

Dos sonhos intocáveis

Tenho tédio de mim

Da visão tão notável

Da alma impenetrável

Que mantenho inviolável

Tenho tédio de mim

A perseguir os mesmos planos

A traçar os mesmos marcos

A atormentar os mesmos donos

Tenho tédio de mim

A induzir os mesmos erros

A acreditar que há conserto

Pros cacos que há em mim

Tenho tédio de mim

A programar o mesmo dia

A contar as pilherias

E acabar em nostalgia

Tenho tédio de mim

A buscar o mesmo amigo

Ter um livro como abrigo

Se sentir como um mendigo

Tenho tédio de mim

Tenho a vida como castigo

Tenho o tempo como inimigo

Cansei de viver comigo.

hanna Cida
Enviado por hanna Cida em 08/05/2012
Reeditado em 09/05/2012
Código do texto: T3656166
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