Ode à Inutilidade

Ode à Inutilidade.

Estou convencido de que o universo é inútil.

A vida e a história também o são.

Assim sendo, as ações humanas são inúteis, inclusive o pensar.

O Cosmo não tem um objetivo humano,

basta a si mesmo com suas estrelas, galáxias e inúmeros buracos negros...

“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”...

Enganou-se o querido Pessoa – as almas são ínfimas e

não causam mossa ao plano da misteriosa

infinitude amorosa de Deus, que prossegue impávido na eternidade.

Sem ser sinalizado do nosso sofrimento não faz nada por nós...

Participou da história e por atacado salvou a todos,

esquecendo-se das indagações e sofrimentos das individualidades impotentes.

O único real útil é a música

(que já vai acabar com os últimos acordes da sonata à Kreutzer),

o mais perfeito e belo diálogo entre

eu e não sei quem – um momento de tranqüilidade e de alguma recomposição.

Musica, notas musicais, reais, soltas no espaço

à espera de serem juntadas com algum sentido de harmonia,

interpretando o que, talvez, venham a ser os últimos

balbucios de uma esclarecedora mensagem divina,

que nem as Escrituras conseguiram transmitir.

Não nego o real – apenas o considero inútil.

Existe o universo, a vida, as relações humanas,

e todas as sucessões de eventos que aconteceram e

continuam a acontecer,

a partir da existência da energia, da matéria, da vida,

da consciência, do homem e da mulher.

A história desta evolução é rica em detalhes

da inutilidade generalizada do esforço cósmico.

Já perguntaram, muito antes de eu formular,

uma vez mais a questão:

a razão de existir alguma coisa e não apenas o nada.

A indagação permanece sem resposta...

As reflexões que machucam, no entanto, continuam...

Mas a sensação de inutilidade cresce com o tempo,

se expande com a experiência que se adquire,

tornando a vida progressivamente consciente da sua condição e da

certeza obsessiva da sua dispensabilidade...

Eurico de Andrade Neves Borba, fevereiro de 2011

Eurico de Andrade Neves Borba
Enviado por Eurico de Andrade Neves Borba em 18/02/2011
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