A CARTA DOS FALECIDOS

Se eu mando uma carta

do além

para o mais além ainda

é pela vida que se finda

e também

pela morte que não tarda.

És morto,

por isso te calas:

estorvo

que me abala

pela ausência

do sopro de vida.

Sou morta

pela tua navalha

que me corta

e me veste a mortalha,

mas é tua

não minha a partida.

O pior de tudo

é um coração que bate

em alma com enfarte;

um luto

por quem já se foi

e não volta depois.

Se escrevo para um morto,

em sua alma absorto,

jamais receberás:

é morta a remetente,

e o destinatário, ausente,

é falecido e jaz.

Michele Machado
Enviado por Michele Machado em 17/12/2010
Código do texto: T2677736
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.