Carne Lassa

"Não sou obrigado a sentir dor" ele disse, logo para mim que atravessaria por um chão repleto de cacos de vidros, descalça, só para encontrá-lo do outro lado. Mas haja visto o quão resistente a dor eu sou, não seria grande coisa.

Talvez eu seja meio sádica ao querer ver os outros sentirem dor por mim. Quão miserável eu sou para isso? Muito miserável.

Migalhas... é isso que eu sinto que recebo, baseada no tanto que eu consigo sentir, o que eu recebo, não é nada, nada além de migalhas.

Meu peito arde como um fogaréu, e queima como gelo. Me sinto queimando, mas estou fria, como a neve.

Pequenos flocos congelantes que caem e se recostam sobre a ponta do nariz. Irrelevantes, mas que nos fazem sentir, incomodam, queimam, mas afinal, como pode o gelo queimar?

Um peteleco e nos livramos dele, mas a sensação, permanece, e a vermelhidão, aparece, mas logo, a gente esquece.

Ah! Essas sensações dessa carne lassa, que vem e que passa, que afasta e que abraça.

Tão fácil rimar junto a dor, versos fáceis, suspiro profundo...  será que algum dia eu vou sentir que recebo esse tal de amor?

Jéssica Batista
Enviado por Jéssica Batista em 15/03/2022
Reeditado em 15/03/2022
Código do texto: T7472851
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