Carne Lassa
"Não sou obrigado a sentir dor" ele disse, logo para mim que atravessaria por um chão repleto de cacos de vidros, descalça, só para encontrá-lo do outro lado. Mas haja visto o quão resistente a dor eu sou, não seria grande coisa.
Talvez eu seja meio sádica ao querer ver os outros sentirem dor por mim. Quão miserável eu sou para isso? Muito miserável.
Migalhas... é isso que eu sinto que recebo, baseada no tanto que eu consigo sentir, o que eu recebo, não é nada, nada além de migalhas.
Meu peito arde como um fogaréu, e queima como gelo. Me sinto queimando, mas estou fria, como a neve.
Pequenos flocos congelantes que caem e se recostam sobre a ponta do nariz. Irrelevantes, mas que nos fazem sentir, incomodam, queimam, mas afinal, como pode o gelo queimar?
Um peteleco e nos livramos dele, mas a sensação, permanece, e a vermelhidão, aparece, mas logo, a gente esquece.
Ah! Essas sensações dessa carne lassa, que vem e que passa, que afasta e que abraça.
Tão fácil rimar junto a dor, versos fáceis, suspiro profundo... será que algum dia eu vou sentir que recebo esse tal de amor?