Pode ir

Vai, pode ir.

Vou respeitar tua vontade.

Prometo.

Se quiser, te ajudo a arrumar as malas.

Organizo tudo para tua partida.

Compro até a tua passagem, não importa o destino, te dou de presente.

Só quero te dar a tua liberdade.

Não é isso o que você quer?

Não precisa se explicar.

Tá tudo bem.

Você deseja caminhar por aí.

Encontrar um novo amor.

Alguém melhor do que eu.

Eu te entendo.

Você está no seu direito.

Eu sei que você se apaixonou por outra.

Acha que será feliz com ela?

Então tá. Vá.

Pra quê se prender numa história mal contada como a nossa?

Por que se prender a dias previsíveis ao meu lado se você pode viver mais?

Vai, eu abro a porta pra ti.

A porta da casa e do meu coração para você sair.

Há muita vida lá fora.

Tem a estrada que te leva a lugares inimagináveis.

Tem o céu azul, a lua e as estrelas para te acompanhar.

Tem beleza jamais descritível.

Você pode ter tudo isso ao seu dispor.

Basta ir.

Não precisa se preocupar comigo.

Por que deveria, né?

Eu estou bem, sou muito forte, atrevida, destemida, segura, sensata e inteira.

Por que eu sofreria por um amor que nunca foi meu?

Por que eu sofreria por uma história mal escrita que não cabe no meu “era uma vez”?

Por que eu, tão segura de mim, iria chorar?

Desde quando um não amor me deixa pra baixo?

Você acha que não vou sobreviver?

Eu sei me refazer, meu querido.

Me reinvento para não ficar por baixo.

Acha que não vou amar outro?

Acha que não serei capaz de entregar meu melhor para alguém que vale a pena?

Sou mais forte do que pensa.

Acha que eu vou me desesperar por tua partida?

Acha que eu não vou ocupar os espaços que você deixará, dentro e fora de mim?

Acha que eu vou me agarrar a ti, enlaçar tuas pernas, gritar feito uma louca e não deixar você partir?

Triste engano.

Não mesmo.

Sou fina o bastante para não fazer isso.

Não implorarei uma chance.

Nem um dia a mais contigo.

Vai, pode ir.

Leve tudo o que é seu: seus cds, livros, roupas, sapatos, seu orgulho, sua dignidade, sua teimosia, seus medos, suas fraquezas e seus pensamentos não verbalizados.

Leve sua quinquilharia emocional e sua solidão.

Pode deixar, eu fico aqui.

Organizo a bagunça que você deixou.

Junto os cacos do meu coração que se partiu assim como nosso retrato.

Vou colar meu coração.

E o retrato.... Jogarei fora, assim como você, da minha vida.

Se me sobrar algum tempo, após a faxina, sentirei saudade com data marcada.

Viverei uma avalanche de sentimentos.

Sei que vou te odiar, te esquecer, me lembrar, te amar de novo, sentir tua falta, abrigar um vazio, te superar, te esquecer de novo.

Em meio a tudo, me odiarei por ter deixado você me transformar num ser tão frágil.

E lembrar que eu....

Eu ainda estou aqui.

Do jeito que você conheceu.

Contudo, refeita e mais segura.

Estarei numa versão mais leve.

Dessa vez, não serei refém.

E estarei pronta para amar de novo.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 16/02/2016
Reeditado em 16/02/2016
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