A Divina Tragédia no Inferno dos Imbecis
E ai de mim que, preso na lamúria
Casto, insondável infortúnio,
Vejo então a esperança que aturdia
Fixa em teu olhar diurno.
Ai de mim, pobre homem perdedor
Desço ao inferno, venço fogo, medo
E o hálito azedo do anjo sofredor
Para no final morrer em desmazelo
Terrível mestre sozinho
E sem amor.
Que vive moribundo no ninho
“Aninhado”, talvez, nos prelúdios da dor.
Mas que fiasco,
E eu aqui bancando o herói.
Sigo empunhando distorcida espada de papel
Que aos outros não fere e a mim destrói.
Maldito mocinho de cordel.
Eu que pensei ser Dante,
Fui ao âmago do etéreo causar o motim de dois mundos
Trazer de volta o que jamais fora adiante
Aquilo que havia perdido num instante
Último suspiro de seus lábios pálidos
Lamentações, devaneios...
Odiados, vis, certeiros.
Perambulam em meu cérebro carregando
O tesouro de mil contrabandos
Um par de olhos da cor de braseiros.