Ilustre Desconhecido

( Desconhecido)

Amigo, se mal te conheço,

és famoso e tens poder.

Ouvidos refinados, exigentes,

só escuta o de valor.

Por isso me julgo indigno

do que tenho pra expor.

( Ilustre)

Confirmo, famoso sou

mas com poder relativo.

A todos escuto,

não minto.

Se queres falar agora

atenção não faltará.

Só não te direis o que sinto.

( Desconhecido)

Não necessito de réplica.

Quem pede a palavra sou eu.

Ver minha sina, minha dor,

em mente brilhante, compensa.

Nem faz falta a palavra,

o silêncio agradece e dispensa.

( Ilustre)

Dizei-me, logo senhor.

Com muito tempo não conto.

Se não for

dor de amor, ou paixão?

O que te aflige então?

( Desconhecido)

Na mosca a flecha cravastes.

Não tenho como negar.

Só quem passou o que passo,

abismo sem dimensão,

a mesma canção faria,

sem mudar a melodia,

por entender o refrão.

(Desconhecido)

Falo só,

foi decidido.

Sei que escasso o tempo é

Se pouco direi então,

não pode faltar concisão.

Lanço em ti um olhar,

e as lágrimas tudo dirão

(Desconhecido)

Calado queres ficar.

À pouco lhe dei razão.

Mas sem pensar te pergunto:

vale a pena lutar?

( Desconhecido)

Não precisa responder.

Sei um acordo respeitar.

Levo comigo a mensagem,

que acabo de interpretar.

Juízo seu moço,

é o caminho.

Só o tempo pode ajudar.