TURMA GALO DE RINHA

Enfim nos chegou o dia e a hora

do inicio tão esperado,

eu sinto no ar parado

clareando minha memória,

o desejo de vitória

desde muito alimentado

e todos nós, lado a fado

vamos fazer a história...

O BRASILIENSE, o ASSUNÇÃO,

IRINEU, HEYDT, MENDES, SOUZA,

todos já velhas raposas

calejados pelos anos,

SIQUEIRA, ORIENTE, "hermanosl".

O TORQUATO, MARCELINO,

unidos pelo destino

como touros de sobre ano.

DE SÁ, o NASSAU, SANTANA,

OLI, AMARO, PIMENTEL,

o FRANCO, o LEITE,

ao tropel desenfreado da emoção,

NORBERTO e SILVA, nossa mão,

sempre pronta a ajudar,

VALE, CORTES, ELSIMAR,

Sempre prontos para a ação.

GOMES, nosso caro "irmão".

ORIVALDIR, JOSÉ MARIA,

todos da mesma valia

nesta luta de primeira,

o MONTENEGRO, OLIVEIRA,

GUIMARÃES, EDSON, LUCIMAR,

AMILCAR, MEDEIROS,

ao ar, da Hileia Brasileira.

Ainda chegou no domingo

o EURÍPEDES, bem folheiro,

paraense mui caborteiro

decidido e com vigor,

dizendo: se preciso for

toparei qualquer parada,

estou pronto pra jornada

junto a Deus Nosso Senhor.

Por enquanto, só dúvidas,

e a incerteza da espera,

estamos como pantera

prontos para iniciar,

a espera enfim vai findar

e a dezoito começamos,

curiosos esperamos

até à selva adentrar...

... A dezoito, pela manhã,

vieram os instrutores:

SÁ ROCHA, um dos precursores,

Diretor do COS "C, Capitão,

VIGLIONI, OLIVEIRA SOUZA, a ação;

MARIO JORGE, SIMÕES, MANARTE.,

possuidores de muita arte

e vaqueanos da região.

O VANDERLEI, UBIRAJARA,

CÉSAR, DAMÁZIO e MAICÁ,

PIMENTA, do lado de lá,

todos grandes Monitores,

com voos de mil condores

por plainos e socavões,

são tempestades, trovões,

ao longo dos corredores.

A nossa "Aula Inaugural"

foi com o Coronel LANA,

iniciou-se nessa semana

"OPERAÇÕES NA SELVA", o Curso:

- espero que no decurso

transcorra-lhes tudo bem,

todo aquele que aqui vem

terá que lutar como urso.

E na terceira semana

“Tiro de Ação Reflexa",

nada tinha de complexa

mas necessitava ação,

li com muita atenção

"AQUI SE APRENDE A MATAR",

então senti me vibrar

o meu meio lado de cão.

O Capitão Viglioni

e o Sargento Ubirajara,

a confusão se armara

tocando a barata voa,

não é chuva, é garoa,

que deixando o inimigo,

o aluno, atira no amigo,

baratinado meio à-toa.

E na pista de reação

aproveitando o terreno,

eu que sou meio pequeno

levei ali desvantagem,

mas sobrou-me coragem

e superei-me em tudo,

pois eu sou muito sisudo

nunca dei vassalagem.

Missão: Reconhecimento,

atuar no Areal da Garça,

dum jeito meio comparsa

eu fui o "bode expiatório",

como defunto no velório

disseram: é o "Zero Sete",

senti-me como raposa:

trovador sem repertório.

Foi um Deus nos acuda

e eu fiquei desnorteado,

os gritos de todo lado

Comandante! Comandante!

Diziam a todo instante

silêncio nesta patrulha,

o meu cérebro borbulha

anuviando meu semblante.

A missão foi fracassada

o inimigo nos plotou,

porém, sou assim como sou,

e me conservei sereno,

a cobra que tem veneno

morde mesmo pra matar,

não deixei me derrotar

nem me senti mais pequeno.

Missão: foi "Destruir um Míssil"

na Operação Jaburu,

escolheram índio cru

para ser o comandante,

por ser muito confiante

o nosso amigo SANTANA,

passamos a noite insana

com música a todo instante.

Com a missão fracassada

vai pra puta que o pariu,

num alto o MENDES dormiu

e foi aquela confusão,

ouvíamos o capitão

furioso, irado a gritar,

- venha aqui me contar

o que fazias seu "plastrão".

O meu tocaio DE SOUZA

com hemorroidas baixou,

à selva não mais voltou

nós ficamos comovidos,

pois o índio foi bem parido

era um golpe repentino,

que nos reserva o destino

mesmo ficando sentidos.

Missão: "Armar Emboscada"

para a Operação Caiçaca,

estando com a macaca

nós cumprimos a contento.

Viatura em movimento

fizemos o desembarque,

fizemos também o embarque

e foi tudo cem por cento.

Entrando há quarta semana

a apreensão era geral,

logo no cerimonial:

arma suja, barba grande,

é preciso que se ande

bem limpo, não um "paisana",

pois aqui nesta semana

quem não quiser que se mande.

E já no primeiro dia chegou

quase a minha vez,

pois apesar da altivez

que ostento desde menino,

senti um golpe repentino

ao transpor com a gandola,

eu só não pedi esmola

mas me senti pequenino.

Não pude vadear o lago

depois de duas tentativas,

li nas fisionomias vivas

dos Instrutores me olhando,

o teu saco vai arrumando

que tu serás desligado,

e mesmo sendo esforçado

aprendi me conformando.

O capitão MARIO JORGE

disse: a instrução é normal,

nossa apreensão era geral

a cobra estava fumando,

mas alegre fui ficando

ouvindo minha sentença,

e não houve desavença

acabei foi continuando.

Mas os meus amigos VALE,

HEIDT e também o SANTANA,

lá pelo meio da semana

eles foram desligados,

mas ficaram conformados

cada qual com sua razão.

Aqui o diabo amassa o pão

e o aluno paga o pecado.

Operação Jatuarana,

Operação no Cajual,

não paramos e afinal

veio a Operação Flutuante,

Xerife foi o "Comandante",

saiu liso e também ileso,

mas na operação do CESO

nós erramos todo instante.

Operação Muquirana

foi mui árdua, dura e retaca,

pois evacuamos de maca

nosso "peixe" centenário;

Porém, o aluno é otário,

e paga o "pato roubado”,

até ficar acabado

lutando fora do páreo.

Desembarque de helicóptero

começou há quinta semana,

mostrou a raça sobre-humana

o AMILCAR, na palmeira,

socorrido de primeira

por nosso colega CORTES,

que mostrou muita altivez

pela sua fibra baianeira.

Missão: de "localizar

e destruir base inimiga ",

boa vontade não se obriga

nossa missão foi cumprida,

com a Patrulha retraída

descansamos mais um pouco,

o Comandante meio rouco

vibrou c'a sorte corrida.

Ponte do Rio Preto da Eva

"Conquistar para manter",

o GUIMARÃES nos fez ver

erros de planejamento,

porém no silenciamento

de uma rude sentinela,

ela abriu tamanha goela

falhei no exato momento.

Começamos ao meio dia

a Operação Surucucu,

todo índio deve ser cru,

para poder aguentar,

tem mesmo é que arrochar

pra suportar o repuxo,

quase num estrebucho

nos fazem andar, andar...

Entramos pela picada

passando por socavão,

palmilhando todo o chão

o inimigo estava alerta,

aluno quando se aperta

fica muito precavido,

atento pra qualquer ruído

tem emboscada na certa.

O inimigo é inteligente

e nos deixou relaxar,

só para nos emboscar

num igarapé pequeno,

mas nosso sangue sereno

não se deixou abater,

procurando sempre ver

emboscantes no terreno.

Enfim cumprimos missão

bombardeando uma clareira,

quer queira ou quer não queira

cumprimos nosso pedaço,

pois no tempo e no espaço

cremos que bem a contento,

apresilhando no tento

rechonchudos tironaços.

Não houve o ressuprimento

só pela nossa bobeada,

a Operação Retirada

começamos oito e meia,

estranha e árdua peleia

o inimigo socavão,

nós fomos nos dando as mãos

aranhas trançando a teia.

Chegamos lá no Branquinho

nossa missão ficou preta,

o ZERO UM ficou perneta

com um tiro de tocaia,

com uma maca macaia

foi feita a evacuação,

em meio a grande confusão

mas não fugimos da raia.

Missão: Base de Patrulha

"Comandante" é o DEZOITO,

o aluno foi pouco afoito

também não desembocou.

Foi o SEIS quem comandou

o restante da Missão.

SÁ ROCHA, era o capitão,

ao DEZOITO desligou.

Missão: Um Deslocamento

na Operação Retirada,

nós saíamos das emboscadas

operando bem atento,

completando o sofrimento

fizeram-nos abatises,

nos deixando cicatrizes

ao bei prazer dos momentos.

E foi na sexta semana

que entramos para valer,

mas ainda fomos perder

nosso amigo ORIVALDIR,

que por gostar de dormir

foi perdendo muitos pontos,

deve ter ficado tonto

com sua Missão a cumprir.

Pelo resto da jornada

trilhas duras, espinhosas,

Operação Orquídea, a rosa,

com espinhos invisíveis,

por caminhos perecíveis

na Operação Jacaré,

com a água sempre no pé

nos tomamos invencíveis.

No Comando do ZERO TRÊS

mantivemos o contato;

no Comando do TORQUATO

foi a Operação Branquinho,

quem tem santo por padrinho

sei que não morre pagão,

entramos na confusão

caímos num redemoinho.

Mantivemos o contato

a apreensão que nunca acaba,

com o Tuxaua Ajuricaba

já na Operação Paiol,

cheios de água, fome e sol

com resistência minada,

fomos tomamos barrigada

como peixe que vê anzol.

Abaixo de caxiri

também banana mingau,

cantamos o berimbau

no ritmo do feiticeiro,

que num modo desordeiro

nos lavou com urucu,

não escapando nenhum

da agonia do mau cheiro.

Comandante o PIMENTEL,

destruímos todo o paiol,

já 'stava bem alto o sol

quando nós retraíamos,

bem alegre nos sentíamos

mas isso pouco durou,

nós pensamos: terminou...

e de alegria até somamos.

O LEITE é o Comandante

limpem armas, material,

nós cumpríamos o ritual

pra podermos descansar,

ninguém podia suspeitar

o que nós íamos sofrer,

sabia que iríamos perder

mesmo antes de começar.

Mesmo que estouro de tropa

foi aquela alucinação,

metam suas caras no chão

cambada de vagabundos,

porcos sujos, bem imundos,

fedorentos, relaxados;

deixaram todos pelados

em muito poucos segundos.

Cantava solto o cacete

sem poder nos defender,

alguém chorou, podem crer,

de maneira comovente,

até o mais rude sente

quando ferem seu moral,

num entrevero infernal

nos bateram rudemente.

Dali nós fomos levados

pro campo de prisioneiros,

dum modo meio grosseiro

diziam: faz parte do jogo,

não houve sequer malogro

que saísse de nossa parte,

ali não fizemos arte

pra não aumentar o fogo.

Tudo normal lá no campo

conforme nós já sabíamos,

mas cansados nos sentíamos

parece que o tempo para,

quem tem vergonha na cara

muito sofre e não diz nada,

somente ficou marcada

a oração que se rezara.

As dezoito horas o "Ângelus"

nos deixou mui comovidos,

lembramos entes queridos

num sofrimento geral,

mas fizemos catedral

do atavismo à oração,

unidos de mão em mão

desviamos do rio o caudal.

Só andadura do pato

durante os deslocamentos,

ouvindo-se juramentos:

te arrenego, te esconjuro,

passamos por cada apuro

isso eu repito e não nego,

o mesmo que galo cego

peleando ali no escuro.

Enfim chegou há tal hora

da fuga desesperada,

bússola, ração, mais nada,

mas era o que nos bastava,

logo, logo o dia clareava,

os rumos iluminando,

passamos todo o dia andando

numa alegria que alegrava.

No sábado pela manhã

nos fomos sendo acolhidos,

todos muito emagrecidos

contingência do exercício,

houve até pouco estropício

FUGA e EVASÃO da Patrulha,

estava acesa a fagulha

como metralha no início.

E nos veio a última Missão:

resgatar dois companheiros,

pouco afoitos, pois matreiros

calculávamos o fim,

já não digo isso por mim

mas pela nossa maioria,

pois o instinto nos dizia

que estava curto o estopim.

E nós fomos emboscados

na ladeira da galinha,

nós reagimos bem na linha

pra fazer o envolvimento,

ali naquele momento

senti-me mui emocionado,

pois o branco imaculado

tremulava com o vento.

Fizemos grande algazarra

em satisfação geral,

embodoquei-me afinal

bem surpreso e comovido,

o homem que é precavido

vem sempre cum pé atrás,

a linguagem era de paz

em meio daquele alarido.

O BRASILIENSE, O ASSUNÇÃO,

o SIQUEIRA, IRINEU e SOUZA,

todos já velhas raposas

calejados pelos anos.

MENDES, ORIENTE, com planos.

TORQUATO, OLI, PIMENTEL,

LEITE, NORBERTO, ao tropel

como touros de sobreano.

GOMES, CORTES e ELSIMAR,

o GUIMARÃES, OLIVEIRA,

farinhas da mesma esteira

EDSON, AMILCAR, LUCIMAR,

EURÍPEDES, MEDEIROS, ao ar

da selva pioneira e linda,

todos vimos a luta finda

podíamos nos orgulhar.

Tínhamos ainda tristezas

pelos amigos que ficaram,

mas sabemos que lutaram

ao teto da resistência,

faltou-lhes muita vivência,

capitão SÁ ROCHA dizia,

este Curso tem valia

a par da grande experiência.

Foi “TURMA GALO DE RINHA"

nosso Curso batizado,

ao COSAC o forte brado

pelos novos combatentes,

dos poucos sobreviventes

da selvagem maratona,

com sabor de temporona

do BRASIL QUE VAI PRA FRENTE.

Manaus-AM, 2 Dez 76. Selva!

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 14/08/2014
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