A Viagem.

A Viagem.

Dia 16 de Maio de 2024, 11:49 da noite.

Depois de sete anos entre o AVC/AVE, depois de ter que se desfazer da minha moto, de não cruzar a estrada que liga Salvador à Jacobina, volto sedento de vontade de sentir o cheiro de terra molhada, do breu da madrugada, e, a adrenalina no corpo embriagando-me.

12:23 da noite.

Arrumo o alforje da Vulcan S com pequenas peças compatíveis com o uso, minha pistola 765, e, documentos referentes a necessidade de cada objeto destinado a minha segurança. A minha frente a irmã católica e descrente tenta convencer-me ir de ônibus por ser mais seguro, achando imprudente a decisão. Sem lhes dar ouvido, termino a arrumação, peço licença e entro no banho.

01:18.

Saio do banho, visto a calça Jeans cargo com bolsos laterias, calço a bota da marca Texx, uma camiseta com uma caveira numa Harley Davidson, nas rodas da mesma, fogo. Uma jaqueta de Couro que leva nas costas uma Águia e o seguinte dizer:

"A liberdade reside em ser corajoso. "

(Robert Frost.)

Mais uma vez minha Irmã retruca, só que desta vez, sobre a indumentária. Porque é toda preta, e. sendo assim, ficaria a mercê de todos os adventos desta viagem. Sem dar-lhe ouvidos beijo seu rosto, dou-lhe as costas, segurando o guidão para como no filme Avatar tornarmos um só. Sento, aciono a chave, ligo o arranque, solto-lhe mais um beijo, e, saio.

01:38.

Ter de volta a sensação do vento em meu rosto faz com que por uns minutos eu retire o capacete da marca Bell, antes de chegar aqui criei meu cabelo até o limite dos ombros. O vento tomou-o como brinquedo, embaraçando-o, suspendendo e abaixando-o a seu bel prazer sem se importar com a confusão. Era madrugada de lua cheia, todos os meus anjos deram espaço para meus demônios da aventura numa doutrina elevando os feitos. Ao meu lado, Deus em sua motoca, sorria, dava um grau, até algumas rabeadas em terrenos arenosos.

Seguimos viagem.

O destino era certo. Jacobina. Saudoso das pessoas que deixei, das mulheres que amei, das inúmeras aventuras a me esperar, acelerei para 140km/h na reta entre Riachão do Jacuípe e Capim-Grosso.

03:35

A vida é um roteiro com script feito por dois personagens, que, pode nos levar ilesos ou excluímos-nos da cena. No trecho 74 da rodovia, um caminhão fez uma ultrapassagem, quando percebeu já havia se chocado com a moto. Não fui arremessado, mas, tragado pelos pneus provocando uma virada da carroceria.

03:40.

Ajuntamento de pessoas próxima, a Polícia Federal no local dando o horário do acontecido, entre a tentativa de saber a quem se referia o corpo, pegaram meus documentos e entrando em contato com os meus, relatou o acidente.

05:27.

A família toda reunida, choros, raivas, reclamações e sorrisos baixos enfeitavam a sala de estar. Uma outra irmã segurando as mãos da minha filha para consola-la rezava. Quando de repente ouvi-se uma voz ao fundo que dizia a seguinte frase sorrindo:

"Aquele miserável se foi, nunca tinha visto nessa família alguém tão decidido a fazer o que desse na telha. Ele sempre amou essa liberdade moto de ser, e, nas inúmeras conversas sempre tinha uma pérola que no fundo tinha um "Q" de razão! "Ora, nós vamos morrer um dia, então, que seja fazendo o que gosta".

Dito isso, todos em silêncio a olhava-a consentindo com ela, e, o amanhecer seguiu mais conformado. Débora, a quem ninguém imaginaria estar lá, depois de ter se expressado, sentou em um canto para chorar, às 06:37 do dia 17 de Maio do mesmo ano.

Texto: A Viagem.

Autor: Osvaldo Rocha Jr.

Data: 16/05/2024 às 10:42

Osvaldo Rocha Jr
Enviado por Osvaldo Rocha Jr em 17/05/2024
Código do texto: T8064927
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