Apague o Poema.

Apague o Poena.

Numa noite solitária, caminhando sem direção, um homem vê uma silhueta sentada no acostamento frente a sua moradia. Ao se aproximar, percebeu que aquela forma se tratava de uma mulher, parou, olhou, e, entre o olhar e a decisão de ir, resolveu:

- Hum! Com licença, esta precisando de alguma coisa?..

- Não obrigada!..

Naquele momento ela havia virado um pouco seu rosto o suficiente para que ele pudesse ver uma lágrima escorrer por sua face. Uma face que parecia ter sido desenhado à lápis pelo próprio Eros, seus cabelos castanhos moldavam a paisagem, que, embora encantava, naquela noite, estava fria. Ele sentou ao lado dela esperando uma reação involuntária, mas, nada aconteceu, então, ele voltou a perguntar:

- Tem certeza que não precisa de ajuda?..

Ela calada estava, calada continuou.

- Eu pude notar uma lágrima em sua face, quer conversar? Há algo lhe incomodando? Pode falar. Falar é bom para aliviar o coração.

Ainda calada, ela rabisca no chão a palavra, "Vazia"...

- Vazia!.. O que exatamente quer me dizer?..

Nesse meio tempo, ele voltou algumas horas antes, e, súbito foi compreendendo todo o quadro com pequenos flash's de um tempo.

- O que poderia deixa-la vazia? Qual fator te proporciona tamanha tristeza?..

Ela levantou a cabeça, olhou em seus olhos fixamente, e, falou:

- Eu não acredito em mim, não acredito nas pessoas que me rodeiam, sou simples, sou amiga, e, mudaria o mundo por aqueles de quem amo.

Ouvindo tudo atenciosamente, ela ainda disse:

- Você! O que te fez parar aqui, não sou boba, nem tenho sindrome de Amélia, então, se espera ganhar algo, desista. Você é igual a tantos nos asfaltos da vida.

As palavras machucaram-me apesar de não demostrar. Neste intervalo pude ter uma visão mais ampla da sua face, seus olhos castanhos claros convidava-me a trilhar um mundo do qual eu não tinha conhecimento, e, falei sem pensar estar sendo ousado demais:

- Seus olhos são lindos.

Foi quando da sua mão caiu um pedaço de papel, percebi o desconforto com que rapidez ela o pegou.

- Calma! Eu não iria pegar, e, mesmo que o pegasse, não me diz respeito.

- É um poema.

- Posso ver?..

- Pode!..

Entregando-me o papel, percebi um pequeno desabafo, com o seguinte título:

"Apague o Poema."

(No Recanto das Letras.)

Neste desabafo, ela estava zangada com alguém, mas, no final, expunha todo seu sentir e emoção na dita escrita. Quis devolver-la, para em seguida, ela afastar minha mão dizendo:

- Jogue fora! Não me serve mais.

Amassei o papel, rasgando um pedaço do mesmo, e, queimando com o isqueiro, deixei o vento se encarregar de levar as cinzas. As cinzas! Dava para notar a cor daquela conversa, um dia nublado ainda seria um dia de sol, na tentativa de afastar as nuvens segurei sua mão, pude no toque sentir além do tremor, uma leve textura de quem viveu a vida escrevendo sentimentos depostos pela vida, e, agora não fora diferente. Aquelas mãos ainda me falavam mais. Houve um tempo que havia sido retribuída com a mesma intensidade, recordando-me de alguém que conheci em 2019, das promessas noturnas com amor e desejo, do olhar que muitas vezes acendia as noites em que sozinho eu me encontrava caminhando a lugar algum.

- Espere!..

Olhando-a com mais cuidado, ele se levantou quase caindo pra trás, não podia ser, não faz sentido, aquela a quem pensei estava há 365 km de distância, não!.. Não podia mesmo ser. Ela se levantou para atestar o improvável, era ela, o mesmo corpo onde vivi nos três últimos anos carinhos e prazer, seu andar ainda era o mesmo, confiante com os pés no chão, mas, sem a alegria de outrora, então, ela andou devagar.

- Sou eu! Há anos você se foi, ao não retornar nem mesmo meus escritos confirmando sua renúncia, mas, agora estou aqui. Como sempre estive iluminando seu caminho, desta vez pela última vez na sua noite solitária, só que desta vez terá que continuar sem mim.

Tudo agora fazia sentido, magoei o coração daquela que me amou incondicionalmente sem cobrar, que trouxe alegria nas vezes que encontrava-me entristecido, hoje, à vejo como no espelho. Ela então vira as costas, sem olhar para trás, some na escuridão, deixando o vazio, quanto a mim...

Sentei no acostamento, de cabeça baixa, sentindo uma lágrima molhar a minha face...

Texto: Apague o Poena.

(Texto elaborado do título Apague o Poema da autora Djanira Luz.)

Autor: Osvaldo Rocha Jr.

Data: 13/04/2024 às 22:03

Osvaldo Rocha Jr
Enviado por Osvaldo Rocha Jr em 14/04/2024
Código do texto: T8041188
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