A FALÁCIA DO ESTADO MÍNIMO

Por incrível que pareça, este texto não será escrito por alguém de esquerda. Me considero um liberal conservador. Liberal na economia e conservador no sentido de que acho válido conservar as instituições e acreditar que as mudanças devem ser feitas na sociedade gradativamente, respeitando as regras do jogo.

 

Não obstante, o filósofo francês Gilles Deleuze tem uma opinião muito bonita sobre o que é ser de esquerda. Ele usa a imagem de um círculo em gradiente, e no último círculo do gradiente, está a consciência de que não é possível me alimentar vultuosamente sem ter em vista que há pessoas passando fome no mundo, que não é possível construir uma casa sem ter em mente o impacto no meio ambiente, que não posso usufruir do meu convênio de saúde sem saber que há pessoas com a saúde debilitada que dependem de auxílio para conseguir saúde. Conforme o gradiente vai chegando no centro, há o egoísmo, a competição exacerbada, a busca incansável por bens materiais sem levar em conta o próximo. Então, o filósofo conclui que quanto mais perto do centro você está, mais de direita você é. Sob essa perspectiva, então, me considero de esquerda.

 

Uma das poucas coisas que me orgulho do Brasil é o SUS, referência no mundo todo. O que seriam das pessoas menos favorecidas sem essa assistência do governo? Caso contrário, poderíamos ser como os EUA, um país rico, mas desigual, com um sistema de saúde pública totalmente sucateado e escanteado. A alternativa seria pagar tudo privado. É aí onde o Estado entra, tentando corrigir, nem que seja parcamente, essas desigualdades sociais. Além de nos fornecer segurança, uma boa educação e não atrapalhar os contribuintes com muitos impostos, oferecer a oportunidade de livre comércio, não atrapalhando os empreendedores e facilitando o crédito para quem deseja abrir um negócio. Nesse sentido, acho que o modelo escandinavo, de bem-estar social, é exemplar e um ideal a ser perseguido.

 

A democracia também é nosso bem maior, é como falam em clichê, é o melhor sistema entre os piores. E enquanto não descobrirmos um melhor, é esse ideal democrático que devemos perseguir. O socialismo, os governos ditatoriais e, muitas vezes, a religião, só trouxeram guerra e morte. Cabe aos seres humanos, em regras estritamente humanas, respeitando a regra do jogo, conservar os bons valores que são o legado máximo da sociedade, como a cultura e a arte, para tentar criar uma sociedade o mais equânime e menos desigual possível.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 13/02/2024
Reeditado em 13/02/2024
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