Aguilhão.

Tu me concedes a serenidade que me foge, e o turbilhão é o que me acerta. Enganaste-te. Pois sou aquele que tece a própria desgraça. Nunca imaginei que o ódio e a desordem pudessem ocupar tanto espaço em meu peito; a virtude e a misericórdia, que eu achava serem características inerentes, escaparam-me e desvaneceram-se de mim. Na verdade, o autodomínio é o fruto do orgulho e a perseverança é o resultado da ambição. Uma simulação abscôndita, externamente, em relação a outrem, mas que se expõe sempre e nega-se, conscientemente, do medo da admissão de tal erro tão vil para consigo mesmo. As lágrimas não existem mais. Não se escuta mais os batimentos cardíacos, pois o coração parece mudo, tão letárgico e sem vida, apenas presente num encaixe anatômico que permita, talvez, de causas a efeitos, a continuação da morte, que jaz física.

Mariizans
Enviado por Mariizans em 29/01/2024
Reeditado em 29/01/2024
Código do texto: T7987126
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