Em tom de vida

Eu cresci na terra do Virgulino, vulgo Lampião,

Ouvi histórias diversas, desde do apoio até à oposição.

Escutei o coco do Joci Batista, sofri com o brega do Reginaldo Rossi;

Me politizei com Chico Science, me questionei com o Machado de Assis;

Reencontrei-me com Lima Barreto, me afeiçoei com a Conceição.

Ouvindo cantigas de carnaval, me emocionei com algumas belas orquestras de frevo,

Mas, não tive pique com tanta emoção, me acolhi com Chico César;

Relaxei com o mestre Marley, viajei no Facção.

Ouvi o Tim em Racional e com Racionais,

Amontei o meu ódio e distribui como se não houvesse amanhã.

Briguei, bati, apanhei sem motivos, com motivos apanhei um pouca mais.

Perdi um grande amigo, tive ódio do Deus que pregavam e de todos aos quais me circundavam.

Ao sentir-me nada, cantei Risoflora em tom baixo,

Tentei imaginar-me forte tão qual o Luiz Gama e idealizei viver mais que o Malcolm.

Quisera sentir o passado como se fora apenas o que é, conseguir absorver o mundo com a ingenuidade

de um ódio conturbado, sem feridas mentais aparente, no entanto,

Ainda sinto o cheiro do desprezo, ouço o barulho do medo e me apavoro com o silêncio.

Sávio Soares
Enviado por Sávio Soares em 29/12/2023
Código do texto: T7964813
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