Aos que sentem dor

Não sei quantas lágrimas você tem derramado. Não sei a magnitude das suas dores. Não sei por quais experiências você passou para ser como é, pensar como pensa, agir como age. Não sei por que, em tantos momentos, você se julga tanto. Nem mesmo sei por que essa voz autoritária não sai da sua cabeça. Uma voz tão exigente. Tão cruel. Tão injusta. Essa voz que aparece do nada, quando você acha que está tudo bem, mas, então, a tempestade retorna, a cobrança ressurge, e aquele sentimento de derrotismo torna a apertar o seu peito. Apenas posso sentir muito por isso. Posso dizer que o entendo, embora não o compreenda. Porque não sou capaz de entrar na sua realidade. E, embora me esforce por compreender a dor presente em seus discursos, ainda não conseguirei sentir o mundo como você o sente, ver a vida como você a vê. Mas eu entendo. E entendo porque eu também já vivi experiências, dolorosas até, marcantes demais. Algumas delas deixaram cicatrizes que ardem até hoje! E eu sei como é estar na nossa pele. Como é sentir a vida como nós a sentimos. De um jeito que ninguém mais sente. E nos sentimos isolados por isso, abandonados, sozinhos. Mas a real é que todos sentem o mundo de uma forma igualmente única. Então, no final, ninguém sabe como é estar na pele de ninguém. Ninguém é tão empático assim, compassivo assim, amoroso assim. Alguns tentam, é verdade. E se aproximam do objetivo. Mas no final, somos nós por nós mesmos, sendo os nossos eternos companheiros.

Mas, sabe de uma coisa? Eu sei... vai parecer clichê. Só que eu amo os clichês rs. Gosto tanto deles que escrevo romances melosos, com discursos românticos, com cenas de aquecer o coração feito aquelas de filmes “pastelão”. Essa sua dor vai passar. Tudo passa nessa vida. Inclusive as nossas alegrias. Porque é assim que acontece. Hoje estamos bem. Daqui a pouco acontece algo que retira de nós essa alegria e nos garante uma amarga tristeza. Tristeza que também passa dando espaço para um novo momento de refrigério que, inevitavelmente, também terminará. Resta-nos aceitar. Resta-nos silenciar aquela voz intransigente, chata e insistente que diz que somos uns fracassados, que estamos condenados a perder, que nascemos para sofrer. Mentiras. Mentiras que contamos a nós mesmos por nos inferiorizarmos. Sim, podemos ter momentos ruins. Mas fracassados? Podemos cometer erros. Mas condenados ao sofrimento? São coisas fortes demais, não acha? Se estamos aqui, se ainda estamos aqui, se em meio a tantos julgamentos, a tantos falatórios, a tantos dedos apontados, a tantas insensibilidades, a tanta falta de compreensão, a tanta falta de respeito para com o nosso direito de sermos singulares, ainda estamos aqui, resistindo bravamente em nome de sonhos que estão enraizados em nossos corações, então essa coisa de “fracassados” se revela uma verdadeira fraude. Fracasso eu entendo como nem tentar. Mas a gente tenta. A gente coloca um sorriso no rosto e tenta mostrar que está tudo bem. Eu sei, não é a melhor das estratégias. Mas o que podemos fazer diante de tanta gente que não se esforça o mínimo por tentar ouvir o outro em sua dor? Não que nos tornaremos uns lamentadores compulsivos que mereceremos ser ouvidos por toda a humanidade. Não é sobre isso. Mas um pouco de olhar atento de uns para com os outros já ajudaria bastante. Na falta desse olhar, entretanto, que você possa se acolher, que você possa se aceitar, que você possa se ouvir e se encorajar, que você possa reconhecer o seu valor, que você possa ser melhor consigo mesmo, que você possa ter compaixão pela própria existência. Que você seja aquele que, ciente dos defeitos, mas ainda mais consciente de suas potencialidades, consiga silenciar aquela voz que pouco sabe sobre o seu potencial. Uma voz de ecos passados. Uma voz de opiniões alheias. Uma voz ignorante quanto a quem você é. Uma voz que só aumenta a sua dor, se é que você ainda não percebeu. Uma voz que deveria ser substituída pela sua própria voz. O que você gostaria de dizer a si mesmo?

“Ah! Mas só tenho coisas ruins a dizer a meu respeito”, você pode ter me respondido. Então reveja o seu posicionamento, é o que aconselho. Não precisamos de nenhum inimigo quando não conseguimos ser bondosos para conosco mesmos. Não seja seu inimigo.

(Texto de @Amilton.Jnior)