Pertencer

Aos 28 anos me tornei uma apátrida. Não pertenço a nenhum lugar. Quando era mais nova, planejei toda a minha vida, o que eu esperava de mim mesma para ser feliz. Não sei quantas pessoas podem dizer que conseguiram atingir seus objetivos antes dos 27, mas com certeza eu posso. Me formei em uma faculdade federal, passei em um concurso, me casei com o namorado da adolescência, consegui comprar um apartamento e tinha tudo de material que desejava... A lista estava completa, não faltava mais nada. Então, por que eu não era feliz? O que mais precisava para alcançar a tão sonhada felicidade? Uma psicóloga me fez esses questionamentos...

 

Do que mais eu precisava? Por que eu não era feliz? Essas questões começaram a martelar em minha cabeça por semanas e nada de encontrar a resposta. Por que eu ainda não era feliz? Consegui tudo o que esperava... Por que continuava com a sensação de que me faltava algo?

 

Comecei a analisar a minha vida com mais cuidado e consegui algumas respostas. Respostas doloridas, mas, ainda assim, respostas.

 

Me formei em um curso qualquer, o que me parecia menos pior dentre as opções que eu tinha. Foram 5 anos e 7 meses me matando para ser a melhor por um curso que nem era o meu sonho. Me formei com louvor, mas frustrada.

 

Meu casamento, tão idealizado, foi uma invenção. Comecei a perceber a indiferença, a impaciência, o quanto fui me tornando invisível com o passar do tempo. Era como se não fosse necessário fazer mais nada, pois sempre eu estaria lá. Sonhos foram realizados sozinhos, as prioridades foram definidas. Tudo bem eu ficar sozinha por dias, mesmo durante crises de ansiedade e episódios depressivos. Mandava mensagem e era ignorada. Ligava e não me atendia. Chorava e não tinha ninguém para secar minhas lágrimas. Morri lentamente e me perdi.

 

Claro que não culpo ninguém pelas minhas escolhas e por quem me tornei. Afinal, a vida é minha e quem vive ela sou eu. Ninguém é responsável pelas minhas expectativas. Mas, justamente por perceber isso, decidi que era hora de recomeçar.

 

Comecei uma nova graduação, numa universidade particular qualquer, fazendo um curso qualquer, mas que eu me imagino atuando, mesmo não tendo a melhor remuneração do mundo.

 

Me divorciei. Nunca pensei que um dia isso aconteceria. Dói finalizar uma história de 11 anos. Você precisa reaprender tudo. Reaprender quem é você e como seguir em frente, mesmo com todas as dores que um divórcio causa. Não me entenda mal, não foi um casamento abusivo e horrível. Só tínhamos objetivos e estávamos em sintonia diferente. Para algumas pessoas era o suficiente, mas não para mim.

 

Tive que sair do apartamento que tanto amava, que tinha o meu toque em cada canto. Foi tão sonhado. Tinha tanta história e bons momentos. Mas também foi testemunha de tantas lágrimas e desespero.

 

O concurso? Bom, por ora, não tenho do que reclamar.

 

Vocês devem estar se perguntando onde quero chegar me expondo tanto... Nem eu sei. Talvez só precise desabafar. Aos 28 anos me encontro endividada, divorciada e morando de favor, ainda tentando descobrir quem eu sou e em busca da tão sonhada felicidade. Não pensem que sou tola. Sei que a felicidade é um estado passageiro, que ninguém é feliz o tempo todo, mas, também, não devemos nos contentar em sermos infelizes o tempo todo.

 

Sei que sou jovem ainda, mas também sei que não sou tão nova assim. O relóginho está correndo e eu estou tentando ser o melhor que posso para mim e para quem está ao meu redor. Tenho falhado com frequência, mas continuo tentando.

 

No momento sou uma apátrida e, espero, algum dia encontrar o meu lugar. Saber quem eu sou, da onde sou e para onde vou. Enquanto esse dia não chega, continuo tentando ser o melhor de mim e torcendo para não machucar quem está à minha volta e conseguir curar as minhas feridas que, vez ou outra, se abrem e sangram, manchando quem está por perto.

Karoliny Mesquita
Enviado por Karoliny Mesquita em 02/09/2023
Reeditado em 29/09/2023
Código do texto: T7875922
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