Eu continuo aqui...
Hoje, ao ver você passar quase me pisando com expressão de nojo, volto ao
passado e me revolto com as palavras que você me disse, com o abraço que me destes e
com as inúmeras promessas que me fizestes. Sua imagem ainda perfeita em minha mente,
aos pouco vai se apagando dando lugar a realidade presente, vejo-me sentado neste
cimento frio enquanto sua silhueta vai sumindo na multidão.
Tempos bons, dias maravilhosos e uma recordação nada confortável invade minha
alma atormentada de saber que não me conheces mais, não sabes sequer que um dia me
chamastes pelo nome, na minha dor colocastes brandura, na minha fome pusestes fim e na
minha vontade de vencer colastes a esperança, mas quisera o destino me fazer mendigo
mesmo contra minhas forças de lutar para permanecer a seu lado presente. Sua vitória fez
você esquecer a caridade para com os mais desvalidos, aqueles que não tiveram como tu
a sorte de remar em águas mais calmas e que te conduziram sempre ao topo, vencestes é
verdade, mas também perdestes, perdestes a capacidade de enxergar o chão onde pisas e
eu me encontro agora a estender-lhe a mão na esperança de que ponhas nela um quê.
Passastes ao largo fingindo não me ver, mas eu aqui continuo na esperança de que um dia
tua consciência possa falar mais alto que seu esquecimento fazendo seu orgulho cair no
chão que me serve de apoio e enfim você de novo me enxergar como irmão e não mais
ignorar minhas necessidades que perto das suas, são ínfimas. Mesmo me menosprezando
jamais te rogarei praga, pelo contrário ao céu elevarei meu pensamento pedindo que Ele
nos abençoe. Você passou, mas eu continuo aqui, quem sabe um dia retornarás e serás
brindado com o meu mais sincero sorriso. Me despeço e assino, eu mendigo para você...