O lugar chamado Você

Pedro Arkab tem uma frase brilhante:

“Cuide deste bonito lugar chamado Você”

E eu acho esse pensamento brilhante porque ele nos traz uma grande verdade: somos o nosso lugar. E talvez você não me compreenda imediatamente. Isso porque não paramos para pensar por essa perspectiva. Vivemos nossas vidas em busca de alguém. É como se apenas no outro pudéssemos encontrar um lugar no qual repousar o nosso coração, sorrir aliviados, festejar animados por termos encontrado abrigo às nossas almas. E isso também é bonito. E é romântico. Mas não deve ser a suprema verdade da vida. Não podemos viver desabrigados se podemos morar em nós mesmos. Se podemos – e somos – o nosso próprio lugar.

Somos o nosso lugar. Somos o nosso abrigo. Somos quem acolhe a nossa existência. Somos quem protege os nossos sonhos. Somos quem acolhe nossa alma. Somos a nossa grande e eterna companhia. Somos nossa morada para os dias de chuva. Somos nossa pousada para os dias de férias. Somos o que somos: pertencentes a nós mesmos.

E assim somos até o último dia de nossas vidas. Mais além. Até o último milésimo de segundo que tivermos para viver a nossa história. Poderemos ter amigos ao nosso lado no dia do adeus. Familiares queridos. Filhos amados. Netos emocionados. Despedir-nos-emos de todos eles. Largaremos suas mãos. Deixaremos de ouvir a sua voz. Mas estaremos conosco, intimamente conosco, nesse lugar no qual habitamos, até o nosso último suspiro. Você é a sua casa. O seu templo. O seu lugar sagrado. Como tem cuidado de você?

Nessa de ficarmos em busca de abrigos alheios, rejeitando nossa própria casa, esquecemo-nos de nos cuidar acreditando que caberá ao outro o cuidado para conosco, a atenção que sempre procuramos, o acolhimento de que tanto necessitamos. Exigências demais para outro ser humano que, como nós, precisa aprender a morar na própria casa. E ao não cuidar de nós, negligenciamos a nossa existência. Não entramos em contato com quem somos e o que almejamos. Nem mesmo nos reconhecemos e descobrimos. É como se não nos sentíssemos autores de nossas próprias histórias, detentores de nossas próprias existências. Porque é exatamente o que fazemos: abandonamos a nossa casa e a deixamos vazia.

Vivemos nesse vazio existencial, nessa falta de sentido, nessa ausência de propósito.

Tudo porque deixamos de morar no mais belo lugar que poderíamos ocupar: nós mesmos.

É quando rejeitamos a nossa história. Desqualificamos a nossa presença. Desconsideramos a nossa existência. É quando não nos amamos, nem nos respeitamos. É quando não prestamos atenção em nós e focamos apenas no mundo lá fora. É quando, adormecidos, o ladrão nos invade, rouba coisas preciosas e nos deixa empobrecidos de nós mesmos. É quando as más experiências da vida nos esvaziam de nossos sonhos, de nossos princípios, de coisas que nos sustentam e apoiam em nossa singularidade e particularidade.

Que tal apropriar-se de sua casa? Que tal deixar de procurar desesperadamente por outras moradas estando a sua inteiramente disponível para que você entre, arrume as coisas do seu jeito e descanse? A casa que você tanto procura nos outros pode ser feita por você mesmo, no seu próprio tempo, do seu próprio jeito. Talvez esteja apenas precisando despertar para as suas potencialidades, para a beleza de seu jardim e o espaço amplo de seu quintal.

Não que não possamos conquistar umas casas de praia para passarmos o verão.

Mas mais do que casas de temporada, precisamos ter uma morada permanente que nos esconda da chuva, nos aqueça do frio e nos refrigere do calor.

(Texto de @Amilton.Jnior)