A música para os meus ouvidos

Algumas pessoas já me disseram que não curtem a música pela letra, mas isso não muda o fato de que a letra da música está lá, com um direcionamento e um tema. Minha sensibilidade aos conteúdos das canções (e à coisa escrita) me deixa sempre intrigada ao perceber como repetidamente aquilo que fere é popularizado: é o "amor" que machuca, a falta do que se perdeu, a dor do orgulho, o reconhecimento negado, a espera sem esperança, a insistência no erro... Ouço por aí letras compostas de aversões, desesperos e complicações travestidas de romantismo, amor ou até mesmo independência e felicidade.

A ênfase voltada para o tipo de acontecimento que menos se quer viver em sua própria vida (os maiores medos), parece contraditória, acaba tomando o lugar de imaginações saudáveis, lembranças que fortalecem a alma e preparam o coração para receber bons sentimentos. As dores têm sua importância, precisam ser manifestadas para fins de autoconhecimento, mas o foco sobre elas ao ponto de serem recriadas e cantadas repetidas vezes, pode se tratar de uma ferida sutil nas nossas emoções, tomando um espaço útil em nossa mente e se alimentando de lamentações, resultando em um prazer sádico e inconsciente sentido ao confirmar, ainda que de maneira fictícia, ilusões derivadas de crenças que não costumamos colocar sob a luz com frequência.

Por pensar dessa forma, uma tristezinha vem, mesmo que o ritmo pareça relaxante ou convide pra dançar. Além disso, por mais de uma vez, já testei e comprovei que a vontade de trazer a memória o que pode me dar esperança e o ímpeto de celebrar as belezas que existem na Vida, só vêm quando estou nos meus melhores dias e isso é um indicativo, mais que suficiente, para eu em qualquer tempo escolher o que ouvir, pois é por aí que vem a fé que eu almejo.