Não há muito a fazer

Estamos nesse mundo para viver. No entanto, não vivemos. Desperdiçamos essa chance. Jogamos fora a oportunidade que nos foi dada para que, através de nossas experiências e das relações que estabelecemos com as outras pessoas, consigamos crescer e florescer. Perdemos tempo com bobagens e excessos. Uma hora é o trabalho que nos rouba tempo demais. Em outra hora são as facilidades do mundo tecnológico que nos coloca em uma permanente distração enquanto a vida acontece bem diante dos nossos olhos. E em outros tantos momentos é a nossa falta de consciência, de vontade, de abertura nos olhos para compreendermos o fato de que deliberadamente priorizamos o supérfluo e negligenciamos o essencial. Atolamo-nos de coisas em um mundo que não tem tanto assim. Inventamos distrações.

“Espero que todos se divirtam. Não há muito a fazer neste mundo” (Leminski)

E pelos motivos mais bobos deixamos de viver de verdade, de passar pela vida de forma divertida e leve. Não de forma inconsequente ou irresponsável. Não é sobre isso. Mas de forma tranquila e serena. Sem levar coisas inocentes ao pé da letra. Sem rebater o grito com brado. Sem responder a ofensa com impiedade. Sem deixar de perceber que as pessoas que temos ao nosso lado, das quais gostamos, um dia deixarão de estar e ficarão apenas as memórias que junto a elas tivermos construído – se é que conseguiremos fazê-lo.

Você está aqui para sorrir, para se divertir, para ter uma vida feliz. Não quer dizer que as lágrimas não serão colocadas em seus olhos e feridas ardentes não marcarão a sua pele. Isso vai acontecer. Afinal de contas a vida é inconstante. De maneira que os momentos alegres dão lugar aos momentos tristes que dão lugar aos momentos alegres e assim por diante. No entanto, se não soubermos viver com diversão, se não soubermos cultivar leveza dentro de nós na hora de passar pela existência e tocar as pessoas, não conseguiremos nos libertar dos instantes tristes que a nós sobrevierem. Ficaremos presos a uma imagem equivocada e distorcida da realidade. O nosso ressentimento não nos permitirá enxergar que as outras pessoas querem apenas o mesmo que nós: uma vida em paz, com motivos para sorrir, afinal de contas não há muito mais a se aproveitar nesse mundo!

Olhe para as pessoas que ama com simplicidade, compaixão e generosidade. Não as machuque. E não permita que entre vocês um abismo se faça construir. Porque quando há um abismo entre nós e quem gostamos, quem verdadeiramente gostamos, de quem não conseguimos deixar de gostar mesmo depois de tempos sem que uma palavra sequer fosse trocada, fica aquele vazio doloroso e angustiante, aquela vontade por diminuir a separação, superar a frieza, permitir que os corações possam ser sentidos em um abraço de amor, lealdade, amizade. Não queira experimentar a dor do silêncio. Antes procure pelo som de gargalhadas divertidas quando a vida permitir que encontros aconteçam entre vocês. Poucas coisas importam tanto na vida quanto a possibilidade de cultivarmos momentos felizes com aquelas pessoas que nos fazem sorrir.

(Texto de @Amilton.Jnior)