Pessoas não são rótulos

Há poucos dias assisti a um filme que muito me inspirou e tocou. Talvez pelas escolhas que tenho feito na vida e pelas inclinações a entender a existência como ela é mostrada na obra. Mas com certeza porque há uma sensibilidade que poucos deixariam de perceber. Falo do filme “Meu Nome é Rádio”. Sendo portador de uma condição de saúde mental, Rádio vive perambulando de um lugar ao outro sendo, muitas vezes, isolado pelas pessoas, rejeitado pela sociedade e desacreditado. Mas sua vida passa por uma grande transformação quando conhece um técnico de futebol que não olha para a sua condição (para os rótulos), mas para a pessoa que ele é!

Sou estudante do último semestre de Psicologia. E, ao longo do curso, conseguimos entender sobre a importância do diagnóstico. Ele nos ajuda e pensar em um plano de tratamento, a formular os encaminhamentos necessários e a transmitir à família as informações de que ela precisaria para a melhor integração daquele familiar em seu seio. Então não há dúvidas acerca da sua função. Como também não há incertezas sobre o fato de que as pessoas possuem um diagnóstico, mas não são aquelas definições. O diagnóstico é apenas uma parte da sua existência, e não a totalidade. Somos muito mais do que disseram que somos!

Digo isso porque no filme, Rádio possui uma determinada condição de saúde mental, o que leva as pessoas a o rotularem e se afastarem dele. No entanto, aquele técnico não viu o diagnóstico, não viu os rótulos, não quis saber das definições. Ele encontrou-se com outro ser humano. E pôde contemplar suas potencialidades! Pôde ver em que ele era capaz de contribuir. Conseguiu perceber – e tocar – a humanidade de Rádio. Algo fantasioso demais para o mundo de caixinhas no qual vivemos? Pode parecer. Mas esse filme é baseado em uma vivência verdadeira! Portanto, pode acontecer.

Quero, assim, expandir nossa conversa. As pessoas não precisam necessariamente ter um diagnóstico médico ou psicológico para que as rotulemos, porque fazemos isso gratuitamente. Uma hora são os esquisitos, em outra são os bobões, e em outras tantas são inúmeros apelidos ou nomenclaturas que não quero listar aqui. E nos baseamos nessas definições para julgarmos quem as pessoas são ou não. Não permitimos que elas falem, nem deixamos que se apresentem a nós. Se reprovamos aquele tal rótulo então esqueça! Não queremos nem conhecer as outras partes daquele ser humano que poderia ser um amigo sincero, um companheiro leal, um parceiro para a vida!

As pessoas são mais do que partes, como já falei. E podemos nos impressionar se nos aproximarmos delas. Sabe aquele vizinho que você acha que não seria uma boa companhia por causa de apenas um fator? Ele poderia ser um grande tio para os seus filhos que sentem falta daquele seu irmão que mora muito longe. Sabe aquela colega de sala de aula que senta no canto direito da sala, sempre discreta e calada? Ela poderia ser uma amiga fiel para os seus momentos de mais intensa dor quando todos os outros não quisessem se incomodar com as suas lágrimas.

Ao rotularmos as pessoas nos privamos do poder de transformação que elas possuem. São humanas, como nós. E quando há um encontro de humanidades, a vida floresce, acontece, vibra. Sua vida pode andar meio pacata porque os rótulos o tem impedido de ser tocado por gente incrível!

(Texto de @Amilton.Jnior)