amor, café e sua falta

eu gostei de você desde o momento em que te conheci. já te falei isso, enquanto tomávamos café na cozinha do seu apartamento. eu com o meu café preto sem açúcar e você com um cappuccino, feito com a sua receita secreta super especial – palavras suas, não minhas. desde aquele dia deveria ser obrigatório que você estivesse por perto, que tomasse café junto comigo. há muitas coisas que me lembram você. antigamente, a sua lembrança era muito mais vívida. mas hoje não. eu olho para o café quente, exalando fumaça, transbordando cheiro, avivando sensações, e lembro do seu abraço quente e apertado. com você eu podia ser o mais franca possível. tem tantas coisas que eu só quero conversar com você, enquanto tomamos um café juntos. porque conversar com você era como sentir a essência mais profunda da vida. era como descobrir o sentido de existir. havia cumplicidade em suas palavras e lealdade no seu balançar de cabeça. muitas dessas conversas eram apenas entre nossos olhos, em um silêncio aconchegante, em que nossas mãos unidas tinha o encaixe perfeito. foi a primeira vez em que me sentia inteira e feliz ao lado de alguém. e ter esses sentimentos é algo raro em nossos dias, em que qualquer demonstração de afeto é ser uma pessoa “emocionada” - como se fosse algo ruim, e não humano. amar você me fez entender a importância da sintonia e harmonia que se tem quando se acha o seu alguém, assim como o ponto ideal do café delicioso. por isso, o amor não depende da sua presença, pois se faz presente na sua ausência. o amor não é um hábito, como preparar um café todo dia pela manhã, mas habita na lembrança do seu riso na mesa da minha cozinha. o que eu sinto independente do seu existir. é algo meu e pode ser seu, se quiser. é engraçado como o amor se ressignifica e se esconde nessas coisas mais simples, como o ato de fazer um café, sentar para tomá-lo e sentir a sua falta.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 08/10/2022
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